Obesidade e Reação Inflamatória em Adolescentes

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define obesidade como um acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta riscos à saúde, sendo a obesidade e o sobrepeso considerados uma epidemia em todo o mundo,
atingindo faixas etárias cada vez mais jovens.
A identificação dos grupos vulneráveis é de grande importância para o estabelecimento de uma estratégia de prevenção e controle da epidemia. A transição nutricional observada nos últimos anos é fruto do aumento da expectativa de vida, da queda da mortalidade infantil, das mudanças demográficas no país, do padrão de alimentação e do modo de produção. Esta transição é caracterizada por um baixo consumo de frutas, vegetais, grãos, cereais e legumes, associada a um alto consumo de alimentos ricos em gordura saturada, açúcar e sal, entre eles leite, carnes, cereais refinados e alimentos processados. Esse padrão de alimentação é um dos principais fatores por trás de um aumento na prevalência do excesso de peso.
Atualmente, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) estão entre as principais causas de mortalidade no país, e sabe-se que seus efeitos são modificáveis e redutíveis por medidas preventivas e de promoção da saúde. Estimativas apontam que o grupo das DCNT responde por cerca de 60% da mortalidade ocorrida em todo o mundo, sendo as doenças cardiovasculares (DCV) responsáveis por uma em cada três mortes registradas por esse grupo de doenças. Adolescentes  obesos foram descritos como tendo uma probabilidade 70% maior de persistência da obesidade na vida adulta. Uma avaliação da prevalência na prescrição de medicações anti-hipertensivas, antidiabéticas e dislipidêmicas, para crianças e adolescentes entre 6 e 18 anos, no período de setembro de 2004 a junho de 2007, mostrou que houve um aumento global de 15,2% no uso destes medicamentos.
Durante a adolescência, na transição da infância para a idade adulta, ocorre maior exposição a fatores de
risco comportamentais, como alimentação inadequada e sedentarismo, fatores sabidamente associados ao desenvolvimento das DCNT. A reação inflamatória é um fator comum na obesidade, nas DCV e no diabetes, sendo importante avaliar conexão entre níveis elevados de proteína C reativa (PCR) e doença cardíaca. Um levantamento de adolescentes com sobrepeso no ano de 2000 projetou para
2020 um aumento na prevalência de obesidade de 30% para 37% em homens e de 34% para 44% nas mulheres, tendo, como consequência, um aumento das DCV e do número de mortes que poderá ocorrer no adulto jovem.
Pesquisa realizada com adolescentes que apresentavam sobrepeso ou obesidade avaliou correlação entre IMC (peso/altura2) e a PCR, mostrando ser esta uma ferramenta importante para programas de saúde que se propõem a realizar intervenções precoces nos adolescentes considerados de maior risco, prevenindo assim um aumento deste agravo. A pesquisa encontrou antecedente de história familiar de hipertensão arterial sistêmica presente em 96,2% dos adolescentes e circunferência da cintura significativamente maior entre os obesos do que em relação aos adolescentes com sobrepeso. As concentrações da PCR foram maiores no grupo obesidade do que no grupo com sobrepeso. A síndrome metabólica, definida pela presença de três ou mais critérios, foi encontrada em 43,4% dos adolescentes, com predomínio nos adolescentes com obesidade.
Uma das vantagens de avaliar associações entre inflamação e obesidade em adolescentes é a ausência de variáveis confundidoras, como a doença arterial coronariana. Os resultados mostraram que excesso de peso e processo inflamatório estão inter-relacionados e que este evento pode ocorrer em fases precoces da vida, antes que alguma lesão cardiovascular tenha se manifestado. A reação inflamatória, detectada em adolescentes com obesidade, pode ser um fator inicial responsável pelas comorbidades associadas à obesidade.