Pediatra contesta distribuição de contraceptivos sem acompanhamento médico

Médica diz que medida afasta adolescentes dos consultórios e de informação Durante a semana, uma questão polêmica – a distribuição de contraceptivos a menores de idade – foi abordada por autoridades de saúde, políticos e religiosos, mas os profissionais mais indicados em se tratando de adolescentes, os médicos pediatras, foram esquecidos.

 

E segundo Fátima Coutinho, integrante do Comitê de Adolescência da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ), "a entrega domiciliar pode levar ao afastamento do adolescente da profissional unidade de saúde, acarretando até mesmo na falta de orientação e, principalmente, do diagnóstico precoce no caso de situações danosas à saúde", diz a pediatra da SOPERJ. Fátima Coutinho reconhece que a maternidade na adolescência é bem freqüente e diz que "o pediatra, deve estar sempre preparado para conversar sobre saúde reprodutiva, riscos do prática sexual sem proteção, abordando, além de métodos contraceptivos, o uso da camisinha, já que esta é a única proteção no caso de doenças sexualmente transmissíveis, como HIV". A pediatra lembra que "é importante entender que o significado da gravidez e da maternidade pode não ser único e que, portanto, muitas meninas engravidam porque o desejam, porque é o projeto de vida delas ou porque pode significar o desempenho de um papel socialmente valorizado.

Devemos lembrar, também, que nem faz tanto tempo assim, a maternidade na adolescência era socialmente desejada, conseqüente do casamento precoce estimulado, comenta a médica.

 

É importante lembrar às famílias que a pouca afetividade, o autoritarismo, as situações de violência doméstica e a falta de supervisão dificultam o diálogo, e isto sim pode contribuir para a prática sexual sem segurança. As unidades de saúde que desenvolvem trabalhos com adolescentes têm como princípio a procura do envolvimento familiar; no entanto, esse envolvimento não deve ser um empecilho para que se faça a orientação nos adolescentes que cheguem desacompanhados, afirma Fátima Coutinho. "A distribuição de contraceptivos sem que práticas educativas sejam oferecidas pode gerar resultados frustrantes.

 

É preciso ter consciência de que somente informação e prescrição médica não são capazes de evitar a gravidez, pois são muitas as razões pelas quais adolescentes, assim como adultos, não usam adequadamente os métodos contraceptivos", finaliza Fátima Coutinho.