PERGUNTAS E RESPOSTAS EM SAÚDE ESCOLAR – COVID-19

Sendo doença recente a nível mundial, as perguntas se acumulam e muitas das respostas deixam de ser permanentes. Nossa missão é informar à luz da ciência de forma transparente o que os trabalhos científicos nos fornecem. Escola é lugar de proteção social, aprendizagem formal, atividades, alimentação, socialização. A pandemia por SARS-CoV-2 acentuou as desigualdades e diferenças. O espaço escolar público e a comunidade escolar devem se reorganizar para acolher e ouvir nossos alunos de forma segura. Os indicadores epidemiológicos são instrumentos que nos permitem acompanhar os melhores momentos de idas e vindas nas reaberturas e fechamentos das escolas, com menor prejuízo para todos. Foram listadas algumas perguntas que nos chegam, algumas de leigos, para que possam refletir baseados nas publicações mais recentes.

1) O uso da máscara pelas crianças pode causar retenção de CO2?

Não. Há relatos falsos sobre envenenamento por CO2, porém as partículas são tão pequenas que não conseguem ficar retidas.

2) A partir de que idade a criança pode usar máscara? 

A partir dos 2 anos, em crianças sem nenhuma alteração neurológica e sempre sob supervisão.

3) Qual distância recomendada entre os alunos na sala de aula?

No Brasil, o distanciamento adotado é de 1,5 metro. Em documento publicado em março de 2021 o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) reduziu para 1 metro (3 pés) usando máscaras em áreas de transmissão baixa e cerca de 2 metros (6 pés) em áreas de transmissão alta.

4) Quais as recomendações básicas para prevenir a contaminação?

É muito importante ter consciência de que as medidas de controle sanitário passarão a fazer parte do dia a dia da escola, uma vez que a COVID-19 provavelmente permanecerá entre nós por tempo indeterminado. É preciso planejamento para adequação da estrutura física e operacional de forma que os fundamentos sanitários básicos sejam respeitados. São eles:

Distanciamento social em todos os ambientes da escola e nos fluxos de movimentação.

Uso de máscaras.

Ventilação adequada.

Higiene e desinfecção ambiental adequada.

Higienização das mãos, com água e sabão, ou álcool em gel.

5) Existe contraindicação de manter o calendário vacinal durante a pandemia?

Interromper a vacinação rotineira, em especial de crianças menores de 5 anos, gestantes e outros grupos de risco, bem como as estratégias de seguimento e contenção de surtos (sarampo e febre amarela, por exemplo), pode levar ao aumento de casos de doenças imunopreveníveis e ao retrocesso nas conquistas. No curto, médio e longo prazo, as consequências dessa perda para as crianças podem ser mais graves do que as causadas pela pandemia de COVID-19. Além disso, quando os sistemas de saúde estão sobrecarregados, aumentam de forma significativa, tanto a mortalidade direta causada pela pandemia, como a mortalidade indireta causada pelas doenças imunopreveníveis e tratáveis.

6) Que cuidados as famílias devem ter para que as crianças se mantenham saudáveis durante a pandemia?

Alimentação saudável, prática de atividade física, aulas remotas e/ou híbridas se tiver alguma doença crônica ou fator de risco, como diabete, cardiopatia, doença respiratória, conforme estabelecido pela escola. Cuidar da qualidade de sono, proporcionar lazer fora das atividades escolares (leitura, filme, jogos, desenho, música, teatro, atividades físicas em locais abertos permitidos) e manter o calendário vacinal em dia. Se tiver alguma doença crônica ou fator de risco como diabete, cardiopatia, doença respiratória, seguir a orientação do pediatra para a definição sobre o retorno as aulas presenciais ou a opção de aulas remotas.

7) A vacina contra gripe protege contra COVID-19?

Não, mas como os sintomas das duas infecções virais se assemelham, tanto para exclusão de um possível diagnóstico diferencial de COVID-19 quanto pelos riscos associados à infecção pelo vírus da gripe, é muito importante vacinar crianças, adolescentes, gestantes, adultos e idosos.

8) Em quanto tempo podem aparecer os sintomas de COVID-19?

A incubação do vírus SARS-CoV-2 (período em que os sintomas podem aparecer após o contágio) é em média de 5-6 dias, podendo chegar a 14 dias.

9) Após episódio de COVID-19 assintomático ou leve, a criança deve ficar afastada de atividades físicas por quanto tempo?

Não existe restrição formal para crianças e adolescentes, passado o período de transmissão. Está descrita na literatura a ocorrência rara da Síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), duas a quatro semanas após a infecção pelo SARS-CoV-2, caracterizada por quadro inflamatório sistêmico grave que pode atingir vários órgãos como o trato gastrintestinal, pulmões, pele e sistema nervoso central, provocando miocardite e disfunção cardíaca em casos mais graves. Os sinais iniciais são febre persistente, prostração, redução da atividade e do apetite e requer avaliação medica a nível hospitalar.

10) Há consenso quanto à transmissão por crianças assintomáticas?

Sim, pessoas infectadas, inclusive crianças, mesmo sem apresentar sintomas, podem transmitir o vírus, mas sabe-se que pessoas sintomáticas tem maior capacidade de transmissão.

11) Qual o risco de uma criança pequena acidentalmente ingerir álcool em gel?

Pode ocorrer envenenamento alcoólico e lesões erosivas no trato digestivo alto. A melhor maneira é guardar o frasco fora do alcance das crianças e utilizá-lo sempre sob supervisão. O CEATOX, ligado à USP, recebe ligações do Brasil inteiro pelo telefone 08000148110. Na impossibilidade do contato, dirigir-se imediatamente a um serviço de emergência.

12) Na Educação Infantil, as crianças não conseguem cumprir integralmente as regras de distanciamento e uso de máscaras. O que pode dar proteção adicional ao educador?

O uso de protetor facial (face shield) além da máscara, avental descartável quando tiver que ficar bem próximo da criança, p. ex. segurar no colo, trocar a fralda ou ficar a menos de um metro de distância. Estar atento em higienizar as mãos e uso de álcool a 70%, antes e após o contato físico com as crianças. O ideal é que os professores estejam vacinados e com máscaras PFF2.

13) Quais os critérios para diminuir as chances de transmissão de COVID-19 nas escolas?

Só pessoas assintomáticas (estudantes, profissionais da escola) podem frequentar a escola. Recomenda-se verificar a presença de sintomas antes de sair de casa. Lugar de criança doente é em casa, acompanhada pela família, pelo pediatra ou pelo serviço de saúde.

14) Em escolar com sorologia positiva IgG para SARS-CoV-2, por quanto tempo seria improvável atribuir à COVID-19 o surgimento de sintomas?

Não é possível determinar imunidade para a COVID-19, mesmo naqueles que apresentam algum exame prévio com IgG positiva. Portanto, nesses casos, o diagnóstico de COVID-19 deve ser considerado na presença de sintomas sugestivos. O padrão ouro para confirmação da doença é a realização de RT-PCR na fase aguda da doença. Ressalta-se a possibilidade de 30% de resultados falso-negativos.

15) Como posso diferenciar a COVID-19 da gripe?

Infecções virais respiratórias (influenza, VSR, por exemplo) e a COVID-19 apresentam perfil similar de sintomas, sendo, muitas vezes, difícil distingui-las clinicamente. A vacinação para gripe é um fator importante, tanto no que diz respeito à proteção contra o vírus da influenza e suas complicações, quanto para afastar essa possibilidade diagnóstica. Na suspeita clínica, o RT-PCR para COVID-19, assim como o painel viral completo, devem ser considerados para o diagnóstico etiológico da infecção respiratória. Ambas as infecções podem não causar sintomas (assintomáticas) ou incluir sintomas leves a graves. Os sintomas da gripe aparecem cerca de 1 a 4 dias após a exposição a uma pessoa doente. Os sintomas do COVID-19 aparecem cerca de 2 a 14 dias após a exposição a uma pessoa doente.

Perda de olfato e paladar, diarreia e vômitos são mais associados com a COVID-19 do que com a gripe.

16) Quais são os sintomas mais comuns de COVID-19 em crianças e adolescentes?  

Muitas são assintomáticas ou podem ser semelhantes a outras doenças comuns, como resfriados, infecções na garganta ou alergias. Os sintomas mais comuns de COVID-19 em crianças são febre e tosse. Além deles, podem estar presentes: congestão nasal ou coriza, dor de garganta, diarreia, vômito, náusea, inapetência, cansaço, dor de cabeça, perda de olfato ou paladar, calafrios, dores no corpo, dificuldade para respirar. No caso de sintomas sugestivos da COVID-19, a criança ou adolescente deve ficar em casa, avaliada(o) pelo pediatra e, se estiver frequentando aulas presenciais, a escola deve ser imediatamente informada.

17) Crianças com sintomas leves como coriza, espirros e tosse sem febre devem fazer PCR antes de ir para escola?

Pessoas sintomáticas não devem ir para escola independente de confirmação de COVID-19. Nesses casos, o RT-PCR e outras investigações diagnósticas devem ser realizados com o intuito de descartar (definindo outro diagnóstico) ou confirmar a COVID-19. Importante lembrar que mesmo diante de um RT-PCR negativo, não é possível descartar a COVID-19; um segundo RT-PCR pode ser considerado. No entanto, a melhor conduta nesses casos é a recomendação de quarentena de 10 dias.

18) Uma vez apresentando PCR positivo, por quanto tempo este vírus pode ainda ser transmitido? E, portanto, quando esta pessoa pode voltar à escola ou ao trabalho?

Nos casos leves e moderados, o período de transmissão é de pelo menos 10 dias do início dos sintomas ou da data da coleta de RT-PCR (o que ocorrer primeiro). Após esse período, desde que assintomático há 24 horas, a pessoa pode retornar às suas atividades presenciais. No entanto, no caso de quadro mais grave e para pessoas imunodeprimidas, o período de isolamento pode se estender por até 20 dias.

19) Caso alguma criança ou professor seja diagnosticado com COVID-19, as aulas deverão ser suspensas?

Não, se cumprida a recomendação de uso de máscaras e distanciamento social que descaracterize contato próximo, alunos e adultos devem ser rastreados e monitorados.

20) Qual o risco de contágio para alunos que frequentam escolas cujas salas têm pouca ou nenhuma ventilação?

Quanto menos ventilado o ambiente e quanto menor o distanciamento entre as crianças, maior o risco de contaminação.

21) É seguro o retorno de bebês às creches? Não seriam eles mais suscetíveis ao vírus?

Até o presente momento não tem sido observada gravidade maior em crianças desta faixa etária em comparação com outros grupos etários. Crianças são vulneráveis a se infectarem como os adultos, porém não está claro até que ponto contribuem para maior transmissão do SARS-CoV-2. O retorno seguro dependerá de diversos fatores que incluem dados epidemiológicos e progressão dos casos na região da creche, além de rotinas e padronizações de segurança do local em questão. Ainda aguardamos definição quanto à liberação de vacinação para crianças, caso isso ocorra.

22) Professor com familiar infectado deve ser afastado do trabalho? Se sim, por quanto tempo?

Sim, deve cumprir o afastamento preventivo de 14 dias a contar do último contato com seu familiar em período de transmissão do vírus. Se o familiar for contactante domiciliar significa que, se sua alta se der no 10º dia do início dos sintomas, o afastamento do professor ou aluno será de 24 dias. Importante lembrar que resultado negativo de RT-PCR em contactantes assintomáticos, não autoriza o retorno às atividades na escola.

23) A quem cabe rastrear os contatos de profissionais da Educação/alunos se  contaminados?

As Unidades de saúde, Clínicas da Família e serviços médicos precisam trabalhar juntos. Em caso de surto o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) deve ser acionado.

24) Quando toda a turma (alunos e adultos) deve ser colocada em afastamento preventivo?

Entende-se que, considerando o uso correto de máscaras e o distanciamento social, não é necessário o afastamento preventivo de adultos e alunos diante do caso sugestivo ou confirmado de COVID-19 na turma. No caso das turmas menores de dois anos, em que o uso de máscaras se restringe aos adultos e o distanciamento social muitas vezes não é possível, a ocorrência de um único caso sugestivo ou confirmado de COVID-19 requer o afastamento de toda a turma por 14 dias (tempo de incubação da doença) ou até que se descarte a hipótese de infecção do caso índice. Na ocorrência de dois ou três casos sugestivos e/ou confirmados no mesmo grupo de convivência (uma turma, por exemplo), o afastamento preventivo por 14 dias também deve ser adotado.

25) Como considerar o resultado do RT-PCR para COVID-19para definição de quarentenas e afastamentos preventivos?

O exame de RT-PCR para COVID-19, desde que em pessoas sintomáticas e quando realizado entre o 3o e 7o dias de sintomas, é considerado padrão ouro para a confirmação diagnóstica. No entanto, o resultado negativo de um único exame de RT-PCR, mesmo nessas condições, não descarta a possibilidade da COVID-19. Por outro lado, adotando a estratégia baseada em testes laboratoriais, considerando a possibilidade de exame RT-PCR falso-negativo, o retorno só seria possível após dois testes com esse resultado. Estudos não encontraram evidências de que pessoas clinicamente recuperadas com persistência de RNA viral tenham transmissão de SARS-CoV-2 para outras pessoas.

26) Crianças e adolescentes também podem apresentar quadro de estresse tóxico?

Sim. Crianças e adolescentes podem manifestar estresse tóxico de origem emocional de diferentes formas. Podem demonstrar alteração quanto à alimentação, alteração do sono, maior irritabilidade ou, ao contrário, maior apatia e perda de atenção e concentração não apenas nos estudos, mas em diferentes momentos do dia. A pandemia, o noticiário e alteração da rotina com distanciamento social podem acarretar impacto importante na criança e no adolescente que cursa com ansiedade, depressão ou retrocesso no desenvolvimento (SBP). Fundamental a atenção do adulto e diálogo sempre presente e quando necessário buscar ajuda de profissional de saúde mental. Diante da desigualdade social vários fatores podem estar envolvidos como violência, abuso, que necessitam avaliação. A inserção digital é importante instrumento de proteção social.

27) Quais os cuidados necessários para evitar a infecção pelo SARS-CoV-2 ao frequentar parquinhos? 

Os cuidados preventivos básicos devem ser reforçados. Uso adequado de máscara, higiene das mãos com álcool a 70% em gel com regularidade, evitar compartilhamento de objetos com outras crianças e adultos, além de manter o distanciamento mínimo de 1,5 metros.

28) Em indivíduos assintomáticos, um teste imunológico com IgM reagente confirma o diagnóstico de COVID-19?

A pesquisa de IgM isoladamente não é um bom método para diagnóstico de COVID-19. Para definir a presença da infecção pelo SARS-CoV-2, o melhor exame é o RT-PCR que, no entanto, em sempre se apresenta positivo em assintomáticos. Diante de IgM positiva em pessoa contactante próxima de caso suspeito ou confirmado para COVID-19, o afastamento preventivo deve ser instituído.

29) Devo colher sorologia para COVID-19 após ter PCR positivo?

Não.

30) Se a criança testar negativo para COVID-19 e o irmão ou os pais testarem positivo, por quanto tempo essa criança deve ficar afastada da escola?

Duas semanas a partir do último dia de contato com familiar PCR positivo.

31) Como proceder se a criança ou adolescente voltar às aulas presenciais e houver familiar de risco em casa (idoso, imunossuprimido, cardiopata, obeso entre outros)?

Seguir atentamente os protocolos de distanciamento, uso de máscaras, higienização das mãos e acompanhar os dados epidemiológicos anunciados e recomendações regionais. Considerar a possibilidade de não voltar presencialmente para a escola, já que essas recomendações podem não ser factíveis, a depender da realidade de cada um.

32) O que fazer caso um coleguinha de escola seja contactante de indivíduo sabidamente positivo para COVID-19?

O coleguinha deve fazer o RT-PCR a partir do terceiro dia do contato e ficar afastado da escola por 2 semanas.

33) Alimentação mais “flexível” em tempos de confinamento, resultaria em aumento do número de lesões de cárie?

Sim, os carboidratos concorrem para isso. Os responsáveis devem estar atentos à alimentação saudável, higiene e escovação dentária em casa.

34) Em relação à higiene bucal, o fato de os pais estarem em casa melhorou essa prática ou não?

Estamos numa pandemia e o trabalho muitas vezes aumentou e com isso alguns cuidados não estão sendo seguidos adequadamente. Veja orientações na próxima pergunta.

35) A escovação dental não supervisionada em escolas aumenta a probabilidade de contágio?

A escovação implica produção de aerossóis que podem favorecer a contaminação do ambiente, portanto, não deverá ser realizada nas dependências da escola. Esse cuidado é considerado adequado pela Associação Brasileira de Odontopediatria Seccional Rio de Janeiro (ABOPERJ), que ainda orienta, no documento Nota de esclarecimento sobre a escovação supervisionada na escola durante a pandemia de COVID-19: (…) durante o atual cenário epidemiológico e as melhores evidências científicas disponíveis sobre o papel da escovação dos dentes na prevenção e controle da cárie dentária, recomendamos às famílias a escovação dos dentes das suas crianças em casa, duas vezes por dia (sendo uma preferencialmente à noite, antes de dormir) com dentifrício fluoretado com quantidade adequada à idade da criança.

 

FONTES:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA

SOPERJ

MINISTÉRIO DA SAÚDE

FIOCRUZ

ACADEMIA AMERICANA DE PEDIATRIA

 

SOPERJ

Presidente

Katia Telles Nogueira

Diretor de Publicações

Joel Bressa da Cunha

Presidente do Departamento de Saúde Escolar

Abelardo Bastos Pinto Jr

Membros

Abelardo Bastos Pinto Neto
Daniella Santini Souza Lemos
Denise Medrado(Homeopata)
Giuseppe Mario Carmine Pastura
Isabella de Assis M. Ballalai
Janete Raad Rigolon
Joel Bressa da Cunha
Olga Oliveira Passos Ribeiro
Paulo Cesar de Almeida Mattos
Silvia Coelho Camara
Suely Kirzner Gheiner

Membros Consultores

Denise Carvalho
Márcia de Oliveira Gomes Gil
Rita Thompson
Vanessa Beatriz Passos Espíndola

Revisão:

Joel Bressa da Cunha- Diretor de Publicações
Isabella Ballalai – Presidente do Grupo de Trabalho Imunizações
Tania Cristina de Mattos Barros Petraglia – Presidente do Departamento de Infectologia