Reações Adversas aos Aditivos Alimentares: Implicações para a Prática Clínica.

Estima-se que de 2.000 a 20.000 agentes sejam adicionados aos alimentos e medicamentos que consumimos como conservantes, corantes, flavorizantes, adoçantes, estabilizadores, espessantes e anti-oxidantes. Atualmente estão licenciados pela Comissão Nacional de Normas e Padrões de Alimentos do Ministério da Saúde cerca de 150 aditivos alimentares.
A percepção geral em relação à alergia alimentar varia de 15% a 30%, enquanto que a comprovação científica dessas queixas reduz sua prevalência a cerca de 2% a 8% da população. Em relação aos aditivos alimentares, é provável que ocorra a mesma discrepância.
Estudo realizado no Reino Unido, por meio de questionário seguido de testes de provocação, estimou em 0,01% a 0,23% a prevalência de reações adversas a aditivos alimentares naquele país. A freqüência destas reações no Brasil permanece desconhecida. Acredita-se que menos de 10% deste total são devidas verdadeiramente às reações de hipersensibilidade.
Na prática clínica os corantes artificiais, em especial a tartrazina (FD&C yellow # 5), constituem o principal objeto de controvérsias em relação aos aditivos alimentares. Entre os mecanismos patogênicos descritos para explicar as reações induzidas pela tartrazina figura uma suposta reação cruzada com o ácido acetil-salicílicilico e outros antiinflamatórios não hormonais. Porém, diferentemente destes medicamentos, a tartrazina não inibe a ciclo-oxigenase e, portanto, não tem atividade antiinflamatória.
A maioria dos trabalhos na literatura relacionando a tartrazina à asma é de ordem apenas observacional. Destacamos meta-análise (Cochrane Library, 2001) envolvendo 18 ensaios clínicos demonstrando não existir relação de causa e efeito entre a exposição à tartrazina e o desenvolvimento de asma, assim como ausência da melhora dos sintomas da doença após a exclusão do aditivo da dieta de pacientes asmáticos.
As mesmas ressalvas acerca dos estudos sobre asma, devem ser consideradas nos trabalhos que tentam comprovar a associação entre tartrazina, urticária e angioedema. Entretanto, a Resolução – RE n° 572, D.O.U de 5 de abril de 2002 no seu Artigo 1° obriga que os medicamentos que utilizem a tartrazina como excipiente contenham na bula o seguinte aviso: “Este produto contém o corante amarelo de TARTRAZINA que pode causar reações de natureza alérgica, entre as quais asma brônquica, especialmente em pessoas alérgicas ao Acido Acetil Salicílico”.Um dos aspectos práticos desta lei foi a drástica redução da adição de corantes sintéticos às formulações farmacêuticas líquidas. Atualmente, estima-se que menos de 50% destes medicamentos contenham corantes, e que apenas 9% entre estes contenham tartrazina.
Relatos isolados de reações adversas a anti-oxidantes como os sulfitos, conservantes como nitratos e nitritos, sorbato e ácido sórbico, benzoatos e parabens, butil-hidroxianisol e butil-hidroxitolueno são encontrados na literatura. Do mesmo modo, os aromatizantes como o glutamato monossódico, edulcorantes como o aspartame e flavorizantes não desempenham papel relevante nas reações adversas a aditivos, especialmente entre crianças.
As reações aos aditivos devem ser investigadas através de anamnese detalhada e, nos casos de história sugestiva, dietas de exclusão e reexposição (DER) e testes de provocação devem ser realizados. Embora a DER seja uma medida de grande utilidade do ponto de vista clínico, seu valor científico é questionável. Os testes de provocação duplo-cegos randomizados e controlados por placebo (TDCCP) são considerados o padrão-ouro para diagnóstico.
Uma vez que os mecanismos responsáveis por estas reações não estão bem elucidados, os testes cutâneos de leitura imediata, testes de contato e, principalmente a pesquisa de IgE específica sérica para aditivos (ImmunoCAP, RAST), apresentam pouco ou nenhum valor diagnóstico e devem ser interpretados com cautela.