“Eu sinto medo de pegar o corona. Eu não quero ir para o hospital, furar meu braço e ficar no respirador”. É com essa resposta que a pequena Maria Luísa de Carvalho Lima, 10 anos, expressa o seu sentimento quando é perguntada sobre a Covid-19.
Afinal, desde que foi decretado o isolamento social há quatro meses, a menina, que mora com a avó e o tio – desde os seis anos de idade, na comunidade da Rocinha -, está resguardada em casa. A mãe de Maria Luísa mora na Zona Oeste da cidade, numa região dominada por milícia. A família avaliou que ela estaria mais segura com avó e o tio, já que a mãe trabalha fora e os irmãos, menores de idade, não teriam condições de cuidar da menina com segurança. O pai de Maria Luísa morreu há dois anos.
Uma das coisas que Maria Luísa mais sente falta é de ir para escola, de brincar com os amigos e de ver a mãe e os irmãos, o que não faz desde março. “Agora eu tenho que ficar em casa, não é muito bom ficar em casa. Eu gosto de ir à praia com a minha mãe, brincar de jogar areia. Aqui eu não tenho muito espaço para brincar”, diz ela, acrescentando outra queixa. Nas poucas vezes em que precisou sair de casa, na companhia do tio ou da avó, ela afirma ter se sentido muito cansada. É que para chegar à casa onde moram, eles precisam subir por ruas e escadas íngremes da comunidade. “Fico cansada, não consigo respirar direito com a máscara, é uma coisa muito chata”, reclama.
Maria Luísa está triste.
Por causa da pandemia, ela não pôde festejar o aniversário com as amigas como gosta. A comemoração ficou restrita à avó, ao tio e algumas poucas pessoas da família, pelo computador. “Com o corona não pode fazer festa com os amigos, comer bolo”. Mas, mesmo abatida, a menina não deixa de sonhar. “Se eu fosse mágica, acabaria com essa Covid. Ela mata as pessoas que a gente gosta. Eu também queria fazer uma mágica para ajudar a minha mãe, a minha avó e o meu tio”, diz, na inocência típica da idade.
Apesar de lutarem com dificuldade, o tio e a avó conseguiram matricular a menina numa escola da rede particular de ensino, na qual ela cursa o 4º ano do ensino fundamental I. O esforço da família já surte resultado. Em seus 10 anos de vida, Maria Luísa já demonstra preocupação social e não esconde seu desejo de ajudar as pessoas que precisam mais do que ela. “Se eu pudesse, ajudaria as pessoas que não têm casa, que não têm nada, elas dormem no chão, e o chão é duro. Eu daria uma cama, uma casa e um tablet. Não sei elas iam aceitar, mas eu daria”.
*Colaboração na entrevista de Edu Carvalho, tio de Maria Luísa.