A COVID-19 entrou em nossas vidas de forma repentina e impactante: uma nova doença, com uma mortalidade inesperada. Fora da Ásia, atingiu a Europa de forma devastadora. Semanas se passaram, com ideia inicial de que crianças eram poupadas, quando, na Itália, percebeu-se que escolares e adolescentes apresentavam quadro semelhante a uma doença já conhecida, porém com características próprias.
A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica relacionada à COVID-19 (SIM-P ou MIS-C, em inglês), inicialmente chamada de Kawasaki-like, é uma doença provocada pela desregulação da resposta imunológica do paciente acometido, após infecção pelo vírus. Nesses casos, uma inflamação pode ser percebida em vários órgãos ou sistemas.
Para o seu diagnóstico, critérios foram estudados e definidos pelas sociedades médicas internacionais e pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Febre é o principal e mais frequente sinal. Dois ou mais aparelhos ou sistemas devem ser comprometidos, seja gastrointestinal, neurológico, cardíaco, pulmonar ou cutâneo. As crianças podem apresentar vários sintomas. Os mais frequentes são:
– manchas no corpo;
– dor de cabeça, irritabilidade;
– tosse, falta de ar, cansaço, dor no peito;
– dor nos membros, edema (inchaço) dos membros ou das articulações;
– aumento de gânglios (ínguas);
Havendo suspeita de SIM-P, exames de sangue e urina, além de exames de imagem (como ecocardiograma), são solicitados para melhor avaliação do paciente.
Feito diagnóstico ou na alta suspeição, faz-se mandatória a internação para tratamento efetivo. Imunoglobulina humana venosa e corticoide são as medicações que podem ser inicialmente prescritas, mas outras também estão disponíveis, a depender da gravidade do quadro ou da ausência de resposta, como no caso dos imunobiológicos. O acompanhamento por equipe especializada e por reumatologista pediátrico é fundamental durante a internação e após a alta, por existir risco de sequelas precoces e tardias.
Na atualidade, orientações claras sobre a administração das vacinas do calendário infantil habitual e da COVID são necessárias, a serem feitas pelo especialista. Dados recentes nos mostram proteção acima de 90% em adolescentes saudáveis com esquema completo de vacinação, evitando a internação hospitalar, especialmente em unidades de terapia intensiva. Em pacientes já diagnosticados com a SIM-P, a vacinação também é uma estratégia de proteção à recorrência, transmissão e a gravidade, devendo-se respeitar a cronologia da doença e do tratamento.
Alessandra Fonseca
Membro do Departamento Científico de Reumatologia Pediátrica da SOPERJ