Sopro inocente

As cardiopatias congênitas representam 1% das mal formações congênitas, acometendo 8 a 12/1000 nascidos vivos. A presença de um sopro cardíaco está presente na maioria desses defeitos. No entanto, de 50 a 70% das crianças apresentam um sopro em alguma fase entre a infância e a adolescência, predominantemente na idade escolar. A presença do sopro é o principal motivo de encaminhamento para o cardiologista pediátrico. A maioria desses sopros representa o que chamamos de sopro inocente e não estão relacionados a defeitos cardíacos. O reconhecimento desses sopros e de suas características é fundamental para que o pediatra ou o médico de família possa encaminhar ou não para consulta especializada, definir a urgência do encaminhamento e não menos importante tranquilizar a família quando a suspeita é de sopro inocente.

Os autores desse artigo: "Auscultation while standing: a basic and reliable method to rule out a pathologic heart murmur in children", realizado no Children Hospital Gatien de Clocheville na França, sugerem um método simples e fácil para a avaliação da presença ou não de cardiopatias através da ausculta cardíaca. Avaliaram 194 crianças consecutivas com sopro cardíaco, assintomáticas, com sopro detectado em consulta de rotina. O método consistia em fazer a ausculta cardíaca inicialmente com a criança deitada. Se o sopro for suave, sem grande intensidade, sem frêmito e sem foco definido, a criança é colocada de pé por 1 minuto, após o qual se repete a ausculta. Crianças menores de 2 anos foram excluídas pela dificuldade em realizar o procedimento. Nesta amostra em 15% dos casos não houve o desaparecimento do sopro cardíaco e todos eram portadores de defeitos cardíacos variados. Nos demais 85% houve o desaparecimento completo do sopro, sendo que em 2% foram detectados defeitos cardíacos e os demais foram diagnosticados como sopro inocente. Todos foram submetidos ao Ecocardiograma.

O exame clínico e o reconhecimento das características dos sopros cardíacos são de fundamental importância para os pediatras ou médicos de família, principalmente para aqueles que não têm facilidade no encaminhamento para centros de referência ou realização de exames de imagem. O método proposto é simples, rápido, de fácil reprodução e de grande ajuda na formulação do diagnóstico. Desse modo, o encaminhamento generalizado seria reduzido e os custos minimizados. Esse artigo reforça a necessidade do aprimoramento do ensino da semiologia cardiovascular nas escolas de medicina com ênfase na ausculta cardíaca.

Para a validação desse método seria necessário um aumento significativo do número de pacientes e que essa avaliação fosse feita não por cardiologistas pediátricos e sim por pediatras ou médicos de família.