Vacina contra a diarréia: muito a ser discutido

Autor:Marcos Junqueira Lago

A gastroenterite aguda ou diarréia aguda é uma das principais causas de adoecimento durante a infância, principalmente em crianças até os cinco anos de idade. Ocorre em todos os países e acomete pessoas de qualquer classe socieconômicas. A doença pode ser provocada por vários agentes infecciosos (bactérias, vírus, fungos e protozoários) ou ainda por algumas toxinas que são liberadas por bactérias.
Apesar deste modelo de ocorrência aparentemente “democrático” existem diferenças importantes entre as diarréias que acometem pessoas de diferentes classes sociais, com ou sem acesso a um bom sistema de saúde e com ou sem condições básicas de saneamento. As diarréias provocadas por vírus (principalmente pelo rotavirus) são isoladamente as que ocorrem com maior freqüência em todos os países e em todos os segmentos socieconômicos. Já as diarréias desencadeadas por protozoários (parasitoses), bactérias e toxinas liberadas por bactérias ocorrerão proporcionalmente com maior freqüência entre crianças que vivem em condições de saneamentos e higiene precários.
Existem ainda diferenças importantes com relação aos efeitos produzidos por esta doença. Em populações desenvolvidas, com um sistema de saúde eficaz, a mortalidade é próxima de zero. Um aumento na mortalidade e eventuais seqüelas estão diretamente relacionados a uma falha em uma das ações básicas de saúde que é a terapia de reidratação oral (TRO). Podem contribuir ainda para uma evolução ruim das diarréias, as más condições vida e ineficácia do sistema de saúde.
Não existe atualmente uma vacina única contra a diarréia. Algumas vacinas têm sido desenvolvidas contra causas específicas, como o rotavirus. Estudos iniciais, com as vacinas para o rotavirus, têm observado uma eficácia que varia de 65% a 90%. A eficácia parece ser maior em crianças das classes economicamente mais favorecidas.
São vacinas promissoras e que poderão, em um futuro próximo, auxiliar os nossos sistemas de saúde no combate a uma das principais causas de diarréia em crianças de até cinco anos de idade. É preciso porém que algumas perguntas importantes para a definição das estratégias de introdução da vacina no Brasil sejam observadas. Qual será a eficácia e o real impacto desta vacina no Brasil onde populações de diferentes níveis socieconômicos convivem lado a lado? Que precauções devem ser tomadas para monitorar eventuais efeitos colaterais que poderão ocorrer em uma utilização universal da vacina onde mais de um milhão de doses poderão ser aplicadas? Em que populações a vacina deveria ser aplicada prioritariamente? Existem vacinas já aprovadas como a da varicela (catapora), hepatite A (que é adquirida através da água não tratada e esgotos), pneumococo 7 valente (contra algumas pneumonias e um tipo de meningite) e meningococo C (contra um tipo de meningite), recomendadas pela sociedade brasileira de pediatria, e ainda fora do calendário oficial de imunização.
Quais seriam as prioridades? É necessário que os estudos de eficácia de vacinas para o rotavirus, já apresentados em congressos, sejam publicados em revistas médicas. Estas novas vacinas poderão trazer grandes benefícios mas sua implantação deve ser realizada de forma planejada e inserida em uma estratégia pública prevenção e combate à diarréia durante a infância.

Fonte:SOPERJ