What is where?

Recapitulando: a classificação correta das palavras nos ajuda a compreender o significado dos textos médicos. Porém, temos dificuldade para classificar as palavras em inglês porque, muitas vezes, a ordem das palavras é o inverso daquela em português — p. ex., o substantivo vem por último.

Na expressão “selective IgA deficiency”, o adjetivo “selective” tanto pode qualificar “IgA” quanto “deficiency”. IgA secretória existe, mas não IgA seletiva. Logo, entendemos o texto como ‘deficiência seletiva de IgA’. Ao ler “contamination of traumatized skin or mucous membranes”, temos de lembrar que a pele traumatizada é tão vulnerável a microrganismos quanto as mucosas, portanto o adjetivo “traumatized” refere-se apenas à pele.

Um exemplo mais longo: “immature glucuronyl transferase deficient newborn infants”. São seis palavras sucessivas que exigem abordagem cirúrgica: dissequemo-las! Ao contrário do cirurgião, devemos começar de trás para a frente. “Infants” é substantivo e “newborn” seu qualificativo, assim a expressão trata de ‘recém-nascidos’. “Glucuronyl transferase” é o nome daquela enzima escrito em português com hífen, ‘glicuronil-transferase’. Parece que o texto fala de recém-nascidos com deficiência dessa enzima. Mas, o adjetivo “immature” qualifica quem? Você sabe que, teoricamente, poderia qualificar a enzima ou os recém-nascidos. O bom senso nos aconselha que a tradução correta é, ‘recém-nascidos imaturos deficientes em glicuronil-transferase’.

Uma das conseqüências curiosas da inversão das palavras é a posição do prefixo “pseudo”. Como você traduziria “pseudo-vitamin D deficiency”? Nossa tendência natural é dizer ‘deficiência de pseudovitamina D’. Opa, ‘pseudovitamina D’ existe? Não, então há algo de errado. A tradução correta é ‘pseudodeficiência de vitamina D’. Ou seja, é preciso transferir o prefixo para encontrar a tradução correta.

Como toda regra tem exceção, há casos em que a simples inversão das palavras não ajuda. Aqui, a lógica e o bom-senso serão seus maiores aliados. Por favor, tente traduzir “The heme ring is oxidized to biliverdin by the microsomal enzyme heme oxygenase”. A parte inicial da frase não é tão difícil — ‘o anel heme é oxidado em biliverdina pela…’ — mas em seguida surgem quatro palavras que desrespeitam a regra de inversão porque elas contêm dois substantivos, “enzyme” e “oxygenase”.  A leitura correta seria ‘o anel heme é oxidado em biliverdina pela enzima microssômica heme-oxigenase’.

Outras vezes, o que é substantivo em inglês deve virar adjetivo em português, e vice-versa. “Cleft palate” traduz-se por ‘fenda palatina’, “congenital dislocated hips” por “luxação congênita dos quadris” e “supplementary vitamins” por ‘suplementos vitamínicos’.

Uma palavra de cautela: cuidado com o verbo “containing”. Ele é freqüentemente utilizado em expressões do tipo “A containing B”, sendo que A e B são substantivos. O leitor deve decidir em cada caso se A contém B, ou se B contém A. Por exemplo, “Enzyme preparations containing bile salts are infrequently needed”. As preparações enzimáticas contêm sais biliares, ou os sais biliares contêm preparações enzimáticas? Creio que a tradução certa seja ‘preparações enzimáticas que con­tenham sais biliares são necessárias infreqüentemente’.

Já encontrei o termo “enzyme-linked immunosorbent assay” traduzido de várias maneiras diferentes. A tradução que me parece mais apropriada é ‘ensaio de imunoabsorção ligada a enzima’, mantendo-se a sigla em inglês (ELISA), porque ela é tão sonora. Para “polymerase chain reaction”, prefiro ‘reação em cadeia de polimerase’. A propósito, é uma pena que não exista um esforço de padronização do jargão médico em nosso país.

 

What is where?

Recapitulando: a classificação correta das palavras nos ajuda a compreender o significado dos textos médicos. Porém, temos dificuldade para classificar as palavras em inglês porque, muitas vezes, a ordem das palavras é o inverso daquela em português – p. ex., o substantivo vem por último.
Na expressão “selective IgA deficiency”, o adjetivo “selective” tanto pode qualificar “IgA” quanto “deficiency”. IgA secretória existe, mas não IgA seletiva. Logo, entendemos o texto como ‘deficiência seletiva de IgA’. Ao ler “contamination of traumatized skin or mucous membranes”, temos de lembrar que a pele traumatizada é tão vulnerável a microrganismos quanto as mucosas, portanto o adjetivo “traumatized” refere-se apenas à pele.
Um exemplo mais longo: “immature glucuronyl transferase deficient newborn infants”. São seis palavras sucessivas que exigem abordagem cirúrgica: dissequemo-las! Ao contrário do cirurgião, devemos começar de trás para a frente. “Infants” é substantivo e “newborn” seu qualificativo, assim a expressão trata de ‘recém-nascidos’. “Glucuronyl transferase” é o nome daquela enzima escrito em português com hífen, ‘glicuronil-transferase’. Parece que o texto fala de recém-nascidos com deficiência dessa enzima. Mas, o adjetivo “immature” qualifica quem? Você sabe que, teoricamente, poderia qualificar a enzima ou os recém-nascidos. O bom senso nos aconselha que a tradução correta é, ‘recém-nascidos imaturos deficientes em glicuronil-transferase’.
Uma das conseqüências curiosas da inversão das palavras é a posição do prefixo “pseudo”. Como você traduziria “pseudo-vitamin D deficiency”? Nossa tendência natural é dizer ‘deficiência de pseudovitamina D’. Opa, ‘pseudovitamina D’ existe? Não, então há algo de errado. A tradução correta é ‘pseudodeficiência de vitamina D’. Ou seja, é preciso transferir o prefixo para encontrar a tradução correta.
Como toda regra tem exceção, há casos em que a simples inversão das palavras não ajuda. Aqui, a lógica e o bom-senso serão seus maiores aliados. Por favor, tente traduzir “The heme ring is oxidized to biliverdin by the microsomal enzyme heme oxygenase”. A parte inicial da frase não é tão difícil – ‘o anel heme é oxidado em biliverdina pela…’ – mas em seguida surgem quatro palavras que desrespeitam a regra de inversão porque elas contêm dois substantivos, “enzyme” e “oxygenase”. A leitura correta seria ‘o anel heme é oxidado em biliverdina pela enzima microssômica heme-oxigenase’.
Outras vezes, o que é substantivo em inglês deve virar adjetivo em português, e vice-versa. “Cleft palate” traduz-se por ‘fenda palatina’, “congenital dislocated hips” por “luxação congênita dos quadris” e “supplementary vitamins” por ‘suplementos vitamínicos’.
Uma palavra de cautela: cuidado com o verbo “containing”. Ele é freqüentemente utilizado em expressões do tipo “A containing B”, sendo que A e B são substantivos. O leitor deve decidir em cada caso se A contém B, ou se B contém A. Por exemplo, “Enzyme preparations containing bile salts are infrequently needed”. As preparações enzimáticas contêm sais biliares ou os sais biliares contêm preparações enzimáticas? Creio que a tradução certa seja ‘preparações enzimáticas que contenham sais biliares são necessárias infreqüentemente’.
Já encontrei o termo “enzyme-linked immunosorbent assay” traduzido de várias maneiras diferentes. A tradução que me parece mais apropriada é ‘ensaio de imunoabsorção ligada a enzima’, mantendo-se a sigla em inglês (ELISA), porque ela é tão sonora. Para “polymerase chain reaction”, prefiro ‘reação em cadeia de polimerase’. A propósito, é uma pena que não exista um esforço de padronização do jargão médico em nosso país.
Márcio M Vasconcelos
soperj@ism.com.br