Abuso sexual de crianças e adolescentes.

Autor:Dr. Roberto Santoro Almeida

Em todo o mundo, tem aumentado a atenção aos casos de abuso sexual de crianças e adolescentes. Pelas conseqüências nefastas nas vidas de suas vítimas e sua relativa freqüência, tais situações se tornam uma importante questão de saúde pública.
Embora seja difícil a quantificação, porque nem todos os casos chegam ao conhecimento das autoridades, algumas estimativas sugerem que anualmente pelo menos 0,1% das crianças e adolescentes sofrem alguma forma de abuso sexual. Meninas são as vítimas preferenciais, numa proporção de 3 para cada menino, iniciando-se o problema por volta dos 10 anos de idade. Na maior parte dos casos, os abusadores são homens, geralmente conhecidos pela criança (comumente parentes, muitas vezes pais ou padrastos). Nas famílias de crianças abusadas são freqüentes condições de penúria material, alcoolismo, e pais que também foram vítimas de abuso sexual na infância.
As crianças e adolescentes vitimados apresentam quase sempre importantes alterações de comportamento. São comuns condutas sexuais inadequadas e exageradas para a idade, ansiedade, queixas de sintomas físicos, baixa auto-estima, medos, depressão, tentativas de suicídio, problemas de sono, comportamento agressivo, baixo desempenho escolar, problemas alimentares e uso de drogas. Também são freqüentes estados de transe, em que a criança ou adolescente fica desligado do ambiente, com um olhar vazio, sem reagir a qualquer tentativa de contato.
Quando há suspeita de abuso sexual de criança ou adolescente, torna-se obrigatório denunciar o caso às autoridades (Conselho Tutelar, Juizado de Menores, Polícia). É fundamental que a criança seja retirada do convívio do abusador, a fim de evitar novas agressões. A vítima deve ser submetida a exame médico completo, para que se determine a presença de lesões físicas, e se pesquise a possibilidade de doenças sexualmente transmissíveis. Além disto, é necessário que a criança ou adolescente seja avaliado e acompanhado por profissional de saúde mental.
Se por um lado existe o risco de não reconhecimento do problema, com as conseqüências danosas acima referidas, há também a possibilidade de um falso diagnóstico de abuso. É necessário portanto que os casos em que há suspeita sejam cuidadosamente avaliados por profissionais experientes, para que a criança ou adolescente não seja induzido a reconhecer uma violência que na verdade não aconteceu. Conhecem-se situações em que mães ou pais em separação litigiosa, por vingança, pressionam seus filhos para falsamente acusar o cônjuge de abuso sexual.
Cabe ainda um alerta para formas indiretas de violência sexual contra crianças e adolescentes. A exibição de condutas sexuais adultas pela televisão ou pela internet pode distorcer o desenvolvimento normal da sexualidade. Muitas vezes são veiculadas as mais diversas perversões sexuais (pedofilia, zoofilia, coprofilia, etc.), de forma facilmente acessível à juventude informatizada. Compete aos pais restringir o acesso dos filhos a imagens que poderão ter efeito traumático para indivíduos ainda em desenvolvimento.

Fonte:SOPERJ