Adapte-se

Você já passou pela situação de, ao ler texto médico em inglês, encontrar uma palavra familiar mas de significado duvidoso, fugidio? Às vezes, nem um bom dicionário ajuda nessas horas. O problema é que freqüentemente precisamos não apenas traduzir, como também adaptar os termos estrangeiros para compreender bem o texto.

Quando eu era aluno de Medicina, ficava intrigado com o termo Caucasian patients. Seria uma tribo, um país, ou uma região geográfica? O dicionário traduzia por “pacientes caucasianos”. Como o termo “caucasiano” não me era muito familiar, eu consultava o Aurélio, o qual diz que caucasiano ou caucasóide “designa a maior divisão étnica da espécie humana”. Depois de ler o termo umas 20 vezes, me dei conta que se o autor daquele texto fosse brasileiro, teria escrito “pacientes brancos”. Eis uma adaptação!

Em tempos de dengue, não paramos de falar do mosquito Aedes aegypti, descrito em inglês como um blood-sucking insect. A tradução “inseto sugador de sangue” não lhe parece imprópria? Ainda mais porque temos um termo elegante em português — inseto hematófago.

A idade de nossos pacientes é tão importante em Pediatria que criaram-se diferentes termos para as diversas faixas etárias. Assim, temos: newborn, infant, toddler, preschool-aged child, school-aged childe teenager. Esses termos têm boas traduções em português, exceto toddler. Já esbarrei duas ou três vezes com a tradução “todler”, que me parece um equívoco. Prefiro chamar os nossos toddlers de “crianças de 1 a 2 anos.” Acrescente-se o detalhe de que, para o pediatra norte-americano, infancy engloba o período neonatal, isto é, 0 a 12 meses, enquanto nós preferimos dizer que a lactância começa no 29o dia de vida.

Os sinais e sintomas são um caso à parte, pois a terminologia médica em inglês tende a ser simples e descritiva, enquanto os termos em português são mais elaborados, herméticos. Assim, soiling vira “encoprese”, pressure sore "escara de decúbito”, e high arched palate “palato em ogiva”. Ninguém gosta muito de epônimos, mas o que fazer se “sinal de Blumberg” (rebound tenderness) está consagrado pelo tempo?

A adaptação também serve para preservar a moral e os bons costumes. A tradução simples do anti-séptico urinário methenamine produziria um termo cacofônico, “metenamina”, assim salvou-se a pátria com "mandelamina".

No quadro a seguir, a coluna 1 contém exemplos de termos médicos em inglês e a coluna 2 fornece suas respectivas adaptações.

Gostaria, por fim, de lançar um desafio. Como você traduziria superinfection? Por favor, envie sua resposta para o e-mail soperj@ism.com.br.

 

Você já passou pela situação de, ao ler texto médico em inglês, encontrar uma palavra familiar, mas de significado duvidoso, fugidio? Às vezes, nem um bom dicionário ajuda nessas horas. O problema é que, freqüentemente, precisamos não apenas traduzir, como também adaptar os termos estrangeiros para compreender bem o texto.
Quando eu era aluno de Medicina, ficava intrigado com o termo Caucasian patients. Seria uma tribo, um país, ou uma região geográfica? O dicionário traduzia por “pacientes caucasianos”. Como o termo “caucasiano” não me era muito familiar, eu consultava o Aurélio, o qual diz que caucasiano ou caucasóide “designa a maior divisão étnica da espécie humana”. Depois de ler o termo umas 20 vezes, me dei conta de que, se o autor daquele texto fosse brasileiro, teria escrito “pacientes brancos”. Eis uma adaptação! Em tempos de dengue, não paramos de falar do mosquito Aedes aegypti, descrito em inglês como um bloodsucking insect. A tradução “inseto sugador de sangue” não lhe parece imprópria? Ainda mais porque temos um termo elegante em português – inseto hematófago.
A idade de nossos pacientes é tão importante em Pediatria que criaram-se diferentes termos para as diversas faixas etárias. Assim, temos: newborn, infant, toddler, preschool-aged child, school-aged child e teenager. Esses termos têm boas traduções em português, exceto toddler.
Já esbarrei duas ou três vezes com a tradução “todler”, que me parece um equívoco. Prefiro chamar os nossos toddlers de “crianças de 1 a 2 anos.” Acrescente-se o detalhe de que, para o pediatra norte-americano, infancy engloba o período neonatal até 12 meses, enquanto nós preferimos dizer que a lactância começa no 29o dia de vida.
Os sinais e sintomas são um caso à parte, pois a terminologia médica em inglês tende a ser simples e descritiva, enquanto os termos em português são mais elaborados, herméticos. Assim, soiling vira “encoprese”, pressure sore “escara de decúbito”, e high arched palate “palato em ogiva”.
Ninguém gosta muito de epônimos, mas o que fazer se “sinal de Blumberg” (rebound tenderness) está consagrado pelo tempo? A adaptação também serve para preservar a moral e os bons costumes. A tradução simples do anti-séptico urinário methenamine produziria um termo cacofônico, “metenamina”.
Assim salvou-se a pátria com “mandelamina”.
No quadro a seguir, a coluna 1 contém exemplos de termos médicos em inglês e a coluna 2 fornece suas respectivas adaptações.
Gostaria, por fim, de lançar um desafio. Como você traduziria superinfection? Por favor, envie sua resposta para o e-mail soperj@ism.com.br.
Marcio M Vasconcelos – soperj@ism.com.br


ESTRUTURAS ANATÔMICAS

Common bile duct

Ducto colédoco

Innominate artery

Tronco braquiocefálico

Innominate vein

Veia braquiocefálica

DOENÇAS

Echinococcosis

Hidatidose

Fatty infiltration of the liver

Esteatose hepática

Squamous cell carcinoma

Carcinoma epidermóide

Stroke

Acidente vascular cerebral (ou encefálico)

DESCRIÇÃO DE PACIENTES

African-American patients

Pacientes afrodescendentes

Caucasian race

Raça branca

Mongolian race

Raça amarela

Toddler

Criança de 1 a 2 anos

EXAMES COMPLEMENTARES

Arterial blood gas analysis

Gasometria arterial

Barium swallow

Deglutograma

Blood glucose level

Glicemia

Breath hydrogen excretion

Excreção de hidrogênio no ar exalado

Light microscopy

Microscopia óptica

Specific gravity

Densidade

View box

Negatoscópio

Wet mount examination

Exame a fresco

SINAIS E SINTOMAS

Bedwetting

Enurese noturna