Dia Mundial das Crianças com Doenças Reumáticas

Dia 18 de março é o Dia Mundial das Crianças com Doenças Reumáticas. Para lembrar a data, o Departamento Científico de Reumatologia Pediátrica da SOPERJ, presidido pelo Dr. Leonardo Rodrigues Campos, elaborou um artigo sobre as principais doenças reumáticas que afetam crianças e adolescentes. O texto é de autoria da Dra. Adriana Rodrigues Fonseca, membro do Departamento.

As doenças reumáticas (ou “reumatismo”) não ocorrem só em adultos e idosos. Crianças e adolescentes também podem ter “reumatismo”. Cerca de 25% das doenças reumáticas ocorrem em pessoas com menos de 16 anos de idade. A febre reumática e a artrite idiopática juvenil são as mais comuns. Mas outras doenças como o lúpus juvenil, a dermatomiosite juvenil, a esclerodermia, as vasculites, a fibromialgia juvenil, dentre várias outras, também podem ocorrer nos pequenos.

As doenças reumáticas, além de causar inflamação das articulações (juntas), podem afetar outras partes do corpo (como a pele, rins, cérebro, coração, olhos, sangue) e causar sintomas como febre, perda de peso e fraqueza nos músculos.

As doenças reumáticas podem ser difíceis de diagnosticar, porque podem causar sintomas diversos que se confundem com outras doenças, além disso, não raramente, os sintomas são atribuídos a traumas, ao crescimento ou a problemas emocionais, o que pode atrasar bastante o diagnóstico correto, levar a exames desnecessários, tratamentos inadequados e gerar sequelas.

Febre Reumática

A febre reumática é causada por uma infecção de garganta (amigdalite, faringite) pela bactéria Streptococcus pyogenes (estreptococo). Representa a principal causa de problemas cardíacos adquiridos na infância, no Brasil. Uma tendência genética que já nasce com a criança, associada ao tratamento inadequado desta amigdalite (remédio errado ou por tempo curto) e que causam a febre reumática.

Os principais sintomas são: 1) artrite – dor forte e inchaço nas juntas (geralmente com muita dificuldade ou incapacidade de andar); 2) inflamação do coração (cardite) – cansaço, falta de ar, coração acelerado e sopros no coração; 3) caroços (nódulos) na pele; 4) manchas vermelhas na pele, que aparecem e desaparecem; 5) inflamação do cérebro (coreia) – ocasionando perda do controle dos movimentos do corpo.

O diagnóstico é feito através dos sintomas, junto com exames de sangue, eletrocardiograma e ecocardiograma. Após o diagnóstico, é essencial evitar que ocorram novas infecções de garganta pela bactéria estreptococo, através da injeção de penicilina benzatina a cada 21 dias.

Artrite Idiopática Juvenil (AIJ)

A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ), antigamente chamada de artrite reumatoide juvenil, é a causa mais comum de artrite crônica (inflamação de uma ou mais juntas, por mínimo de 6 semanas) da infância. A AIJ pode ter diferentes tipos.

Os principais sintomas são: dor nas juntas, inchaço, rigidez para se movimentar ao acordar (rigidez matinal) e dificuldade ou incapacidade de movimentar as articulações. Dependendo do tipo de AIJ, pode haver febre alta por mais de 2 semanas sem causa conhecida, manchas vermelhas na pele, inflamação dos olhos, inflamação da membrana que reveste o coração (pericardite) ou os pulmões (pleurite), ínguas inchadas ou aumento do fígado e do baço. Devemos suspeitar que uma criança possa ter uma doença reumática sempre que houver:

  • Dor, inchaço, vermelhidão, dificuldade de movimentar ou rigidez nas juntas, braços ou pernas, principalmente se ocorrer logo pela manhã ou com a criança parada;
  • Febre prolongada ou recorrente sem causa conhecida;
  • Perda de peso e atraso no crescimento;
  • Impossibilidade de realizar atividades rotineiras como correr, brincar ou se vestir;
  • Quedas e tropeços frequentes.

As crianças com suspeita de doença reumática devem ser encaminhadas ao reumatologista pediátrico, porque as doenças da criança são diferentes das dos adultos, podendo ter tratamentos, evolução e complicações distintas.

Devido às pesquisas sobre doenças reumáticas da infância e novos medicamentos estudados em crianças nos últimos anos, a maioria destes pequenos pacientes que recebem um tratamento medicamentoso e multidisciplinar precoce (fisioterapia, terapia ocupacional, nutrição, psicologia, odontologia, ortopedia, oftalmologia) alcançam o controle dos sintomas (mas não a cura ainda), com pouca ou nenhuma sequela, levando uma vida praticamente normal.

Dra. Adriana Rodrigues Fonseca

Professora Adjunta de Pediatria da UFRJ

Reumatologista Pediátrica do IPPMG/UFRJ

Departamento Científico de Reumatologia Pediátrica da SOPERJ