Dia Mundial de Combate à Tuberculose – 24 de março

A SOPERJ, através do Departamento Científico de Doenças do Aparelho Respiratório, chama a atenção para a tuberculose, que ainda é um grave problema de saúde mundial. No Dia Mundial do Combate à Tuberculose – 24 de março, o Departamento elaborou um artigo para conscientizar sobre a importância do controle da doença, que apesar de muito contagiosa, tem cura.

Departamento de Doenças do Aparelho Respiratório da SOPERJ

Presidente Dra. Patrícia Fernandes Barreto M. Costa

Apesar de mais de 130 anos de pesquisa desde o descobrimento do bacilo causador da tuberculose (TB), a doença continua como um grave problema de saúde pública no Brasil, afetando anualmente cerca de 70 mil pessoas.1 Como medidas de frear novos casos, o Ministério da Saúde (MS) busca fortalecer o acesso a prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento da TB com o objetivo principal de interromper a cadeia de transmissão da doença, diagnosticando precocemente os casos infectantes, direcionando o tratamento com esquemas eficazes e realizando o monitoramento da evolução dos tratamentos por meio dos esquemas propostos.2

O dia 24 de março é escolhido para conscientização quanto a importância do combate a tuberculose. A data foi criada em 1982 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em homenagem aos 100 anos do anúncio do descobrimento do bacilo causador da doença, em 24 de março de 1882, pelo médico Robert Koch.

Enfermidade antiga descrita como tísica, foi conhecida, no Século XIX como peste branca. No início do Século XX, houve melhora do quadro de incidência e óbito, entretanto na década de 80, o retorno global da TB é observado.1

A TB é uma doença bacteriana de notificação compulsória que afeta primariamente os pulmões, mas pode acometer outros órgãos e sistemas, podendo ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo Mycobacterium tuberculosis, entretanto o M. Tuberculosis é o mais importante.2

A suscetibilidade da infecção acontece de forma universal, mas em geral, um número relativamente pequeno (5-10%) dos estimados 2-3 bilhões de pessoas infectadas com o bacilo no mundo desenvolverá a TB durante a vida, embora o risco maior aconteça nos dois primeiros anos após a primo-infecção. A chance de adoecimento depende de múltiplos fatores, relacionados ao bacilo (virulência e patogenia) e ao ambiente (tempo de permanência e proximidade com o caso índice, assim como do estado imunológico da pessoa infectada), sendo muito maior entre as pessoas infectadas pelo HIV, pessoas em uso de imunossupressores e menores de dois ou maiores de 60 anos.2

A realização do diagnóstico precoce, do início oportuno do tratamento e do manejo adequado dos pacientes com doença ativa é essencial para um bom controle da doença. A busca de Sintomáticos Respiratórios (SR) é a estratégia adotada e recomendada pela OMS para o diagnóstico precoce dos casos de TB, tratamento imediato e consequentemente redução da transmissão aos contatos.3

A Rede de laboratórios para diagnóstico é um dos principais braços atuantes no contexto do combate à TB no país, por meio da realização de um diagnóstico rápido, preciso e acessível. Os serviços de laboratório são mais eficientes e potentes quando se integram em uma Rede Nacional, que deve incluir os laboratórios do sistema de saúde pública de todos os municípios, agregando também os que prestam serviços ao sistema penitenciário, as universidades, aos laboratórios privados e as organizações não governamentais.4

O diagnóstico da TB nos SR deve ser realizado preferencialmente pelo exame de escarro, seja por baciloscopia, teste rápido molecular para TB (TRM-TB) e/ou cultura, visto que a forma pulmonar, além de ser a mais frequente no Brasil, segundo boletim epidemiológico do Programa Nacional de Controle de Tuberculose, é também a mais relevante para a saúde pública, pois é a forma da TB responsável pela manutenção da cadeia de transmissão da doença.4

Segundo a OMS, cerca de 10 milhões de pessoas foram diagnosticadas com TB no ano de 2019. Destes, 12% ocorreram em crianças menores de 15 anos e 8,2% viviam com HIV. A TB continua sendo uma das doenças infectocontagiosas com grande número de óbitos no mundo, totalizando 1,3 milhões de mortes. A OMS classificou 30 países como prioritários para TB, segundo a carga de TB, TB/HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e tuberculose multidroga resistente (TB MDR), o Brasil abriga o 20º lugar em número de casos incidentes de TB e o 19º lugar nos casos de coinfecção TB/HIV.2

No Brasil, em 2020, foram diagnosticados 68,7 mil casos novos de TB, o que corresponde a um coeficiente de incidência de 32,4 casos/100 mil habitantes. Em 2019, foram registrados 4,5 mil óbitos pela doença, o que equivale ao coeficiente de mortalidade de 2,2 óbitos/100 mil habitantes. No Brasil, em 2018, 423 casos de TB foram notificados após o óbito, sendo 199 (47%) na região Sudeste e 169 (40%) na região Nordeste. Os estados com maior número de casos pós-óbito foram Pernambuco (n=114), São Paulo (n=114) e Rio de Janeiro (n=58). Após a pandemia do COVID-19, observou-se queda da notificação de casos novos de TB da ordem de 10,9% (janeiro a dezembro de 2020), em comparação com o mesmo período do ano anterior.4

O estado do Rio de Janeiro é o segundo no país com maior taxa de incidência de TB, com 73,82 casos/100 mil habitantes, e com a maior taxa de mortalidade com 5 óbitos/100 mil habitantes, em 2019. No mesmo período o Brasil apresentou uma taxa de incidência de 35,1 casos/100 mil habitantes.2

O mais importante quando falamos em tratar TB é saber que tem cura, desde que o tratamento seja correto e oportuno. Este tratamento é padronizado no Brasil e distribuído de forma gratuita, pelo Ministério da Saúde.

A cura das pessoas diagnosticadas com TB é uma das principais estratégias para a redução da morbimortalidade da doença. No ano de 2019 do total de novos casos pulmonares diagnosticados com confirmação laboratorial no país 71,8% foram curados, enquanto 12,3% abandonaram o tratamento.2

Em 2021, foi lançada pela Coordenação-Geral de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas (CGDR), a nova versão do Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública – estratégias para 2021 – 2025, em consonância com a Estratégia pelo Fim da Tuberculose da OMS, com a meta de reduzir os coeficientes de incidência da doença para menos de 10 casos para cada 100 mil habitantes e a de mortalidade para menos de 230 óbitos até 2035. Para tal, foram definidos cenários, segundo indicadores socioeconômicos e indicadores epidemiológicos e operacionais, que facilitem o planejamento de estados e municípios, na identificação de suas prioridades.4

O Ministério da Saúde já disponibiliza de forma regular um novo tratamento para a infecção latente da TB. O esquema conhecido como 3HP é composto pelos medicamentos rifapentina associada à isoniazida. Ele reduz o risco de desenvolvimento de tuberculose ativa nas pessoas que tiveram contato com o bacilo e ajuda a interromper a cadeia de transmissão da doença.5

O esquema 3HP foi incorporado no Sistema Único de Saúde (SUS) no segundo semestre de 2021 e, até o momento, já foram distribuídos cerca de 10,5 mil tratamentos 3HP para a infecção latente da tuberculose (ILTB). Essa nova alternativa é considerada um grande avanço em relação ao controle da doença no Brasil, já que exige menor tempo de administração das doses, fator que pode contribuir para a adesão e a conclusão do tratamento.5

“A incorporação do 3HP é um marco histórico na prevenção da tuberculose que traz significativos avanços para a população atendida no SUS. Vamos juntos eliminar a tuberculose como um problema de saúde pública no Brasil”, afirmou a coordenadora-geral de Vigilância das Doenças de Transmissão Respiratória de Condições Crônicas do Ministério da Saúde, Fernanda Dockhorn.5

Atualmente o SUS oferece três esquemas terapêuticos para ILTB: isoniazida, rifampicina e o 3HP. O primeiro exige nove meses de tratamento (270 doses diárias), enquanto para a rifampicina quatro meses (120 doses). Já a rifapentina associada à isoniazida é ministrada durante três meses (12 doses semanais).5

Com o início do tratamento, a transmissão tende a diminuir gradativamente. Em geral, após 15 dias, o risco de transmissão da doença é bastante reduzido. A tuberculose não se transmite por objetos compartilhados. A doença tem cura e o tratamento dura, em média, seis meses e deve ser feito até o final.5

E ainda observamos o impacto da pandemia COVID-19 no avanço da TB, o impacto mais óbvio é uma grande queda global no número de pessoas recém-diagnosticadas com TB e relatadas. Observou-se uma queda de 7,1 milhões em 2019 para 5,8 milhões em 2020, uma diminuição de 18% em relação ao nível de 2012 e muito aquém das cerca de 10 milhões de pessoas que desenvolveram TB em 2020. Dezesseis países responderam por 93% dessa redução, com a Índia, a Indonésia e as Filipinas sendo as mais afetadas. Dados provisórios até junho de 2021 mostram déficits contínuos.6

A redução do acesso ao diagnóstico e tratamento da TB resultou em um aumento nos óbitos por TB. As estimativas para 2020 foram 1,3 milhão de mortes por TB entre pessoas HIV-negativas (acima de 1,2 milhão em 2019) e 214 mil adicionais entre os portadores HIV positivos (acima de 209 mil em 2019), com o total combinado de volta ao nível de 2017. Os declínios na incidência de TB (o número de pessoas que desenvolvem TB a cada ano) alcançados em anos anteriores reduziram quase a um impasse.6

Ações para mitigar e reverter esses impactos são urgentemente necessárias. A prioridade imediata é restaurar o acesso e a prestação de serviços essenciais de TB, de modo que os níveis de detecção e tratamento de casos de TB possam se recuperar para pelo menos níveis de 2019, especialmente nos países mais afetados.6

No dia 24 de março, data mundial de combate à tuberculose, aproveitamos para salientar a importância do controle dessa doença no Brasil e no mundo, pois ainda acomete milhares de pessoas e infelizmente devido as inúmeras circunstâncias ainda apresenta alta mortalidade.

Referências:

  1. Pedro H da SP, Nardi SMT, Finardi AJ, Moraes EB de, Oliveira RS, Pereira MIF et al. Cenário atual da tuberculose. Hansen. Int. 2014;39(1):40-5. Disponível em: https://periodicos.saude.sp.gov.br/index.php/hansenologia/article/view/35027.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. 2.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2019.
  3. World Health Organization. Global Tuberculosis Report 2018. 18 set 2018. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241565646.
  4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasil Livre da Tuberculose. Plano Nacional pelo Fim da Tuberculose como Problema de Saúde Pública. Estratégias para 2021-2025. Brasília: Ministério da Saúde, 2021.
  5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Manual de Recomendações para o Diagnóstico Laboratorial de Tuberculose e Micobactérias não Tuberculosas de Interesse em Saúde Pública no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2022.
  6. World Health Organization. Global Tuberculosis Report 2021. 14 out 2021. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240037021.