Dia Nacional da Visibilidade Trans

O final do mês de janeiro é reservado para a reflexão sobre a proteção e assistência das pessoas transexuais, com o Dia Nacional de Visibilidade Trans – 29 de janeiro. Instituída em 2004, a data é fundamental para o reconhecimento e direitos dessa população dentro da sociedade.

A SOPERJ destaca a importância de falar sobre o assunto e o papel do pediatra no acolhimento de crianças e adolescentes com variação de gênero. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reforça que ele pode ser o primeiro profissional a ser procurado para conversar sobre sexualidade e outras questões relacionadas ao tema.

O Dr. Daniel Gilban, membro do Departamento Cientifico de Endocrinologia da SOPERJ, fez alguns esclarecimentos sobre disforia de gênero ou incongruência de gênero, prevalência na população pediátrica, diagnóstico e o papel do pediatra.

Disforia de Gênero (Incongruência de Gênero)

O Dr. Daniel explicou que identidade de gênero se refere à percepção interna do gênero com o qual a pessoa se identifica. “A pessoa é chamada de cisgênero quando essa percepção está de acordo com o sexo atribuído ao nascimento, que é o que ocorre com a maioria da população. Entretanto, algumas pessoas não se identificam com o sexo atribuído ao nascimento e as chamamos de transgênero.”

A disforia de gênero, agora melhor chamada de incongruência de gênero, se refere aos aspectos que causam desconforto ou algum sofrimento por conta da identidade de gênero distinta do sexo atribuído socialmente.

Prevalência na População Pediátrica

Segundo o pediatra, a prevalência de transgeneridade na população varia de estudos para estudos, mas estima-se como algo em torno de 0,5% da população geral.

As crianças e adolescentes podem questionar o gênero designado em até 10% dos casos, e, comparado com adultos, tem maior chance de adotar uma identidade de gênero diversa. “Uma parcela significativa dos jovens questiona o gênero de maneira transitória e pode não exibir incongruência de gênero a longo prazo.”

Sinais e Diagnóstico

A SBP destaca que alguns sinais que a criança pode expressar quando não se identifica com o gênero de nascimento é preferir roupas, jogos e brincadeiras culturalmente relacionados ao sexo oposto. Já em adolescentes, eles podem se isolar e apresentar alterações como ansiedade e depressão.

O diagnóstico deve ser feito por uma equipe interdisciplinar. Segundo o Dr. Daniel, ele segue critérios estabelecidos pelo manual DSM- 5, da Associação Americana de Psiquiatria, e se baseia em sinais de incongruência marcada entre a experiência de gênero e o sexo biológico com pelo menos 6 meses de duração.

“O ideal é que crianças e adolescentes com incongruência de gênero tenham acompanhamento com um profissional de saúde mental qualificado para ajudar nesse diagnóstico, trabalhando na identificação do sentimento como algo permanente ou transitório.”

O Papel do Pediatra

O pediatra é peça fundamental na equipe multidisciplinar. Cabe a ele acolher a família, ouvir e respeitar as angústias e trabalhar como um mediador de possíveis conflitos.

O Dr. Daniel destacou que está comprovado que desfechos mais favoráveis ocorrem nos casos em que a identidade de gênero exibida é acolhida pela família e pelos profissionais de saúde.

 “A transgeneridade causa muito sofrimento mental pela falta de aceitação desses jovens. 75% sofrem algum tipo de assédio ou violência física. O Brasil é o país com o maior número de mortes violentas por transfobia e há um risco grande de suicídio, depressão e abuso de substâncias. A simples aceitação familiar diminui muito a chance desses desfechos”, alertou.

O médico esclareceu ainda que a incongruência de gênero piora com a entrada na puberdade. Por isso, os pacientes devem ser acompanhados cuidadosamente e avaliados quanto à possibilidade das intervenções hormonais, como bloqueio de puberdade e terapia hormonal de afirmação de gênero, esta última a partir de 16 anos de idade.

O pediatra também reforçou o quanto é importante respeitar o nome social e os pronomes que o paciente deseja que o profissional use. “Há uma portaria do CFM, de 2019, que normatiza a atuação profissional no atendimento de jovens trans que deve ser cumprida, de preferência, em centros de referência com equipe multidisciplinar treinada e com experiência no tratamento da população trans”, completou.