Diabetes e doenças oculares na infância e adolescência

No dia 14 de novembro foi celebrado o Dia Mundial do Diabetes para conscientização da doença. A Dra. Rosa Tasmo, membro do Grupo de Trabalho de Oftalmologia da SOPERJ, elaborou um artigo sobre o diabetes e as doenças oculares na infância e adolescência.

O diabetes mellitus é uma doença vascular que afeta pessoas de todas as idades. Na gravidez, glicemia de jejum acima de 126 mg/dl ou qualquer glicemia aleatória acima de 200 mg/dl são fortemente sugestivas de diabetes gestacional. O descontrole da glicemia durante a gravidez pode levar às malformações congênitas, aborto, macrossomia fetal, pré-eclâmpsia, distocia de ombro, cesariana e natimorto. Os neonatos de mães com diabetes gestacional estão sob maior risco de desconforto respiratório, hipoglicemia, hipocalcemia, hiperbilirrubinemia, policitemia e hiperviscosidade.

A incidência de diabetes tem aumentado na infância e adolescência. O diabetes tipo 1 é o distúrbio metabólito mais comum na infância e sua incidência tem crescido, principalmente, nas crianças mais jovens. O aumento da prevalência do excesso de peso e adiposidade tem elevado o número de crianças com diabetes tipo 2.

O rastreamento da retinopatia diabética deve ser realizado nas crianças a partir de 5 anos do diagnóstico da doença ou aos 11 anos de idade. É recomendado um exame de fundo de olho com oftalmoscopia binocular indireta, sob midríase, com oftalmologista experiente, a cada 1-2 anos.

A retinopatia diabética tem um amplo espectro de apresentação. O aumento da glicemia sanguínea causa lesão nos pericitos capilares retinianos, causando a formação de microaneurismas nas paredes dos vasos. Os microaneurismas retinianos são o primeiro achado da retinopatia diabética. Se não ocorre controle glicêmico, a retinopatia progride com formação de micro-hemorragias e exsudatos retinianos. Paralelamente, esta vasculopatia pode causar oclusão dos vasos retinianos com formação de áreas de exclusão capilar.  O tecido retiniano isquêmico libera vascular endotelial growth factor (VEGF) que estimula a formação de neovasos retinianos. Esses neovasos podem sangrar causando hemorragia vítrea e/ou tração retiniana e descolamento de retina.

A retinopatia diabética é uma das principais causas de cegueira irreversível no mundo. Desta forma, deve ser acompanhada de perto e tratada prontamente. O principal tratamento é o controle glicêmico. As diretrizes atuais recomendam manter a hemoglobina glicada abaixo de 7,0%. O próprio controle da glicemia pode reverter quadros de retinopatia diabética inicial e estabilizar quadros mais avançados. O controle da pressão arterial e da dislipidemia também ajudam no manejo da retinopatia diabética. Se essas medidas não forem suficientes para controlar a retinopatia, o tratamento pode ser realizado com fotocoagulação a laser, injeção intravítrea de anti-VEGF e vitrectomia.

É importante que o médico assistente (clínico geral, endocrinologista ou pediatra) referencie o paciente ao oftalmologista para diagnóstico e tratamento precoce da retinopatia diabética com vista a diminuir o risco de cegueira e o importante impacto que esta morbidade causa aos pacientes.

Fontes:

  • Neu A, Bürger-Büsing J, Danne T, Dost A, Holder M, Holl RW et al. Diagnosis, Therapy and Follow-Up of Diabetes Mellitus in Children and Adolescents. Exp Clin Endocrinol Diabetes. 2019; 127(S 01):S39-S72.
  • Friel LA. Diabetes Melito na gestação – Manual MSD; outubro 2021.

Rosa Tasmo

Membro do Grupo de Trabalho de Oftalmologia da SOPERJ