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Sobre a incorporação de novos sabers às práticas em saúde

Um dos grandes desafios da sociedade contemporânea é a incorporação do conhecimento científico ao cotidiano dos indivíduos e dos grupos sociais. A idéia que os saberes produzidos pela ciência constituem a referência que norteia as nossas práticas profissionais e, por que não dizer, os nossos hábitos e costumes, vem sendo cada vez mais disseminada e toma impulso na década de 50 quando, após o lançamento do Sputnik pela URSS, iniciou-se uma verdadeira corrida no ocidente com a proposta de se criar e difundir uma cultura científica, inicialmente nas escolas e, em seguida, na sociedade como um todo.

Quando uma nova descoberta, invenção ou conhecimento é lançado em nossa vida profissional, não encontra nosso cérebro em condição de “tábua rasa”. Já possuímos um quadro de conceitos e parâmetros próprios, baseados em conhecimentos estruturados e experimentados previamente. Quando chegam as novidades, mesmo se percebidas imediatamente de forma vantajosa, nosso cérebro não se reprograma, em tempo real, para acolher e assumir as novas informações ou idéias. É preciso tempo, às vezes, gerações para que cada indivíduo e a sociedade, no seu conjunto, se reformule, absorvendo as novas idéias e transformando-as em práticas habituais. Nesta fase de mudanças é natural que se administre os novos conceitos, com base nos antigos modelos cognitivos e comportamentais. Em seguida, quando se tem a incorporação das novas práticas ao cotidiano, somos novamente “bombardeados” por novas idéias e conhecimentos, que podem tornar os anteriores obsoletos. Neste momento se inicia um novo ciclo.
Embora todas estas fases sejam conhecidas e identificadas desde o século passado, quando a informação científica passou a ser definitivamente a referência para tomada de decisão nas práticas profissionais em geral, a grande constatação é: com a rapidez e facilidade de disseminação da informação, as fases de conhecer, ancorar as novas idéias aos conhecimentos prévios, refletir e sedimentar o novo de forma a reconhecer situações onde as novas práticas se aplicam, ocorrem em intervalo de tempo cada vez menor. Albert Einstein certa vez sentenciou: “um dos maiores problemas da humanidade não consiste na imperfeição dos meios, mas na confusão dos fins”.

Embora esta situação possa nos angustiar, é necessário ter em conta nossas limitações e que tão importante quanto conhecer e estar em contato com os novos conhecimentos produzidos é buscar uma atitude reflexiva, sem ter a idéia de “receita de bolo”, e que a ciência, assim como a humanidade, é mutável e passível de críticas e reflexões.

Com este artigo, damos início a mais um novo ano e uma nova gestão na Soperj. Esperamos que os pediatras do Estado do Rio de Janeiro encontrem neste Boletim informações que, de alguma forma, possam ser úteis e um espaço para reflexão sobre a atividade profissional e as práticas da Pediatria no Estado do Rio de Janeiro.

Feliz 2010!
Maria Angélica B Varela
Diretoria de Publicações