Epônimos e Pseudo-Epônimos

Todos sabemos que epônimos são termos do jargão médico que tomam emprestado o nome de alguém para denominar uma doença ou síndrome (por exemplo, a síndrome de Kawasaki), mas também uma estrutura, instrumento etc. Há uma tendência salutar a favorecer os termos descritivos em detrimento dos epônimos – devemos falar 'cápsula hepática' em vez de 'cápsula de Glisson' -, mas convenhamos que é mais fácil mencionar a 'síndrome de Kawasaki' do que a 'síndrome cutâneo-mucosa e linfonodal'.

Nossa tarefa hoje é ajudá-lo a identificar os epônimos e a não se confundir com os pseudoepônimos, aqueles que parecem mas não são.

No primeiro boletim, citei a confusão em torno do adjetivo 'Finnish' no termo Finnish nephrotic syndrome, síndrome nefrótica finlandesa. Reparem que o adjetivo derivado da nacionalidade se escreve em inglês com a primeira letra maiúscula, enquanto em português a primeira letra é minúscula. Então, não se deixe enganar pela primeira letra maiúscula. Você também pode dar o azar de um determinado adjetivo começar com letra maiúscula porque inicia a frase ('Caisson disease is characterized by…'). Somos tentados a acreditar que um sujeito chamado Caisson descreveu a referida doença, mas na verdade tratase do 'mal dos caixões' ou 'mal dos mergulhadores', causado por descompressão súbita.

Existe ainda a situação inversa, quando a palavra começa com letra minúscula mas deve ser compreendida como um epônimo. Exemplo: müllerian duct. Algumas pessoas falam em 'ducto mulleriano', mas não lhe parece mais elegante utilizarmos 'ducto de Müller'? Uma situação delicada ocorre quando o nome do indivíduo também descreve um objeto ou evento. Dois bons exemplos são a Christmas disease, que poderia sugerir uma incerta 'doença do Natal', e o Battle sign, que alguém apressado poderia ler como 'sinal da batalha' – William Battle foi um cirurgião britânico.

Os pseudo-epônimos são outro departamento, aliás bem maior. Durante o curso de Medicina, aprendemos que a quellung reaction é útil na identificação laboratorial dos pneumococos.

Aqui, o primeiro indício de que quellung não é nome próprio está na letra minúscula inicial, e de fato sua origem é a língua alemã, na qual significa tumefação.

Existem momentos em que só um bom dicionário nos salva. Certa vez, me deparei com um corante chamado Alizarin red. Que vontade me deu de acreditar que Alizarin era o nome de alguém! Mas um dicionário me apresentou ao corante denominado alizarina. Já que estamos falando de corante, Congo red não é exatamente um epônimo, mas não resta dúvida de que a tradução correta é 'vermelho Congo', certo? E de onde vem o termo 'ossos vormianos'? Eles foram descritos pelo anatomista dinamarquês Ole Worm no século XVII, daí que em inglês os ditos ossos são chamados de wormian bones.

Com o uso difundido, o adjetivo 'wormianos' ganhou grafia mais brasileira. Prefiro chamá-los de 'ossos suturais', porque nos ajuda até a saber onde eles se localizam.

O quadro abaixo resume os exemplos citados e acrescenta mais alguns.

 

 

Diante do que foi dito aqui e nos boletins prévios, você traduziria Southern test por 'teste sulista'?

Epônimos e Pseudo-Epônimos

Todos sabemos que epônimos são termos do jargão médico que tomam emprestado o nome de alguém para denominar uma doença ou síndrome (por exemplo, a síndrome de Kawasaki), mas também uma estrutura, instrumento etc. Há uma tendência salutar a favorecer os termos descritivos em detrimento dos epônimos – devemos falar ‘cápsula hepática’ em vez de ‘cápsula de Glisson’ -, mas convenhamos que é mais fácil mencionar a ‘síndrome de Kawasaki’ do que a ‘síndrome cutâneo-mucosa e linfonodal’.
Nossa tarefa hoje é ajudá-lo a identificar os epônimos e a não se confundir com os pseudoepônimos, aqueles que parecem mas não são.
No primeiro boletim, citei a confusão em torno do adjetivo ‘Finnish’ no termo Finnish nephrotic syndrome, síndrome nefrótica finlandesa. Reparem que o adjetivo derivado da nacionalidade se escreve em inglês com a primeira letra maiúscula, enquanto em português a primeira letra é minúscula. Então, não se deixe enganar pela primeira letra maiúscula. Você também pode dar o azar de um determinado adjetivo começar com letra maiúscula porque inicia a frase (‘Caisson disease is characterized by…’). Somos tentados a acreditar que um sujeito chamado Caisson descreveu a referida doença, mas na verdade tratase do ‘mal dos caixões’ ou ‘mal dos mergulhadores’, causado por descompressão súbita.
Existe ainda a situação inversa, quando a palavra começa com letra minúscula mas deve ser compreendida como um epônimo. Exemplo: müllerian duct. Algumas pessoas falam em ‘ducto mulleriano’, mas não lhe parece mais elegante utilizarmos ‘ducto de Müller’? Uma situação delicada ocorre quando o nome do indivíduo também descreve um objeto ou evento. Dois bons exemplos são a Christmas disease, que poderia sugerir uma incerta ‘doença do Natal’, e o Battle sign, que alguém apressado poderia ler como ‘sinal da batalha’ – William Battle foi um cirurgião britânico.
Os pseudo-epônimos são outro departamento, aliás bem maior. Durante o curso de Medicina, aprendemos que a quellung reaction é útil na identificação laboratorial dos pneumococos.
Aqui, o primeiro indício de que quellung não é nome próprio está na letra minúscula inicial, e de fato sua origem é a língua alemã, na qual significa tumefação.
Existem momentos em que só um bom dicionário nos salva. Certa vez, me deparei com um corante chamado Alizarin red. Que vontade me deu de acreditar que Alizarin era o nome de alguém! Mas um dicionário me apresentou ao corante denominado alizarina. Já que estamos falando de corante, Congo red não é exatamente um epônimo, mas não resta dúvida de que a tradução correta é ‘vermelho Congo’, certo? E de onde vem o termo ‘ossos vormianos’? Eles foram descritos pelo anatomista dinamarquês Ole Worm no século XVII, daí que em inglês os ditos ossos são chamados de wormian bones.
Com o uso difundido, o adjetivo ‘wormianos’ ganhou grafia mais brasileira. Prefiro chamá-los de ‘ossos suturais’, porque nos ajuda até a saber onde eles se localizam.
O quadro abaixo resume os exemplos citados e acrescenta mais alguns.

Diante do que foi dito aqui e nos boletins prévios, você traduziria Southern test por ‘teste sulista’?