INFLAÇÃO NAS BOMBAS E NA MESA – e nos consultórios

Quando perdemos o controle sobre o valor de nosso trabalho? Quando "aceitamos" a imposição (?) do credenciamento…

Veja abaixo quadro de perda em 10 anos

A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu em junho. A taxa foi de 0,71% contra 0,51% no mês anterior e a alta foi provocada, principalmente, pelos reajustes nos alimentos e nos combustíveis, de acordo com o IBGE, que divulgou o índice ontem. Até maio, esses dois grupos de produtos vinham segurando a taxa. No ano, o IPCA — que orienta o sistema de metas de inflação do governo — já subiu 3,48%, o que corresponde a 63% da meta de 5,5% estabelecida para 2004. Nos últimos 12 meses, a taxa acumulada subiu de 5,15% para 6,06%, na primeira alta do ano.

— Mesmo com o aumento de 0,71% em junho, a alimentação subiu 2,09% no ano, abaixo do índice cheio. Ainda é um grupo importante para conter a inflação — disse Eulina Nunes, gerente do Sistema de Índice de Preços do instituto.

Segundo a técnica do IBGE, problemas climáticos, com frio mais intenso, afetaram em cheio a oferta de hortifrutigranjeiros, como cebola, tomate, cenoura e hortaliças. Só a produção de cebola caiu 4,11%. O grupo também foi atingido pela alta do dólar no mês passado: subiram o preço do bacalhau, da farinha de trigo e do pão francês. E a entressafra, agravada pelo frio, causou reajustes nos laticínios:

— Só a alta do leite (5,33%) respondeu por quase 10% da taxa. Foi a terceira maior contribuição.

Gasolina, a maior pressão no mês

O reajuste de 3,52% na gasolina no mês passado foi o principal impacto no IPCA de junho. O álcool também subiu: 11,35%. Mesmo assim, no ano, esses produtos ainda estão com as variações mais baixas: 1,42% e -5,60%, respectivamente.

— O número veio dentro do esperado e não trouxe sinais de pressões inflacionárias causadas por aumento de demanda. Um temor diante do aquecimento da atividade econômica — afirmou Elson Teles, da Fides gestora de recursos.

E a gasolina vai continuar a pressionar. Apenas metade do reajuste foi captada nesse índice. Com o combustível, já estão certos o aumento da telefonia de 7,43% e da energia elétrica em São Paulo (13,9%) e em Curitiba (8,5%). Sem contar o reajuste de 11,75% nas mensalidades dos planos de saúde. Por causa dessas altas, as projeções para inflação estão acima de 1%.

— Mas os alimentos não vão subir neste mês. Pelas indicações no atacada, não há mais espaço para altas no leite, e os preços dos legumes e frutas já começam a recuar — disse José de Souza, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios.

As coletas de preços mais recentes no varejo também mostram os alimentos mais baratos ou com preços estáveis. A pressão ficará com as tarifas públicas:

— Mesmo sendo apenas um repique já esperado, a taxa anual deve alcançar 7% em julho. Percentual máximo para a inflação em 2005. Portanto, os juros não devem cair nos próximos meses — afirma o diretor do Instituto Fecomércio-RJ, Luiz Roberto Cunha.

Alexandre Sant‘Anna, economista da Arx Capital, ainda vê outras ameaças para a inflação. Segundo ele, o preço do aço no atacado subiu 14% no início deste mês e deve se refletir no preço dos automóveis. Produto que subiu em junho 1,13%:

— Em agosto, haverá reflexos nos carros e eletrodomésticos. Sem contar a entressafra da carne em setembro — alerta o economista.

Mesmo com a alta em junho, as medidas de núcleo, que retiram do índice as variações mais altas e baixas, mantiveram-se estáveis. Segundo Teles, a média dos cálculos de núcleo passou de 0,57% em maio para 0,54% no mês passado:

— Aumento apenas indicador de difusão que mede quantos itens subiram no mês. Passou para 60,9% para 67,%. Mas isso é explicado pela alta na alimentação que responde por 46% dos itens acompanhados — explicou Teles.

Os reajustes das mensalidades escolares (alta de 10,12%), dos remédios (6,59%) e dos automóveis novos (8,76%) foram as principais pressões para alta do IPCA) no primeiro semestre do ano. Logo atrás na liderança na alta de preços vieram a energia elétrica (4,90%), automóveis usados (7,98%), plano de saúde (4,58%), taxa de água e esgoto (5,78%) e o gás de cozinha (6,10%).

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação de famílias com renda até oito salários-mínimos, ficou em 0,50% e acumula no ano alta de 3,14%. Como a gasolina pesa menos no orçamento dessa faixa de renda, o índice ficou menor no mês passado.