O essencial está na simplicidade

O essencial está na simplicidade

 

        Sim… Sou uma pessoa crítica.  Ao final de cada dia de trabalho no consultório de neuropediatria me pergunto se realmente fiz meu melhor.  Se estou atualizada e se minhas orientações são pertinentes. Recentemente percebi que estava prescrevendo algumas coisas incomuns: “Brincar, tomar sol, correr, transformar caixa de papelão em navio pirata, ouvir histórias contadas pelos pais”. Devaneios de uma “neura”?  Talvez…

         Os preparativos para um congresso de Neurociência mudaram um pouco meu foco e a expectativa de me atualizar no universo que “Mente, Cérebro e Emoções” ocupou o lugar da minha autocrítica. A expectativa de novas descobertas, novos medicamentos sempre enchem nossos corações de esperança. E quando volto, sempre sou sufocada de perguntas, que refletem o desejo que algo que mude a vida de várias famílias.

         Posso dizer que esse foi o congresso dos contrastes. De um lado, a tecnologia abraçando a saúde e trazendo para realidade algo que só víamos nos desenhos Os Jetsons. Visitas médicas sendo realizadas através de robôs e simuladores em 3D auxiliando pacientes com Síndrome do Pânico e diversas fobias. Por outro lado, diversas  palestras falando sobre técnicas de meditação para crianças, a importância do sono, do esporte e da arte na vida de um indivíduo.

E de repente, minhas prescrições não parecem tão insanas…

       Às vezes precisamos fazer o caminho de volta. Buscar nossa essência. Rever nossos valores. Essa necessidade ficou mais evidente quando percebi que Depressão, Ansiedade e Suicídio passaram a ser temas comuns envolvendo o universo Infantil. O que está acontecendo com nossas crianças? Onde estamos falhando?  Em meu consultório ouço uma frase com frequência:

 “Eu dou tudo a esta criança!” Será?

Será que estamos dando as ferramentas pra que consigam se frustrar e apesar disso se reorganizar emocionalmente e continuar? Será que estamos dando o tempo necessário para que sejam crianças e tenham oportunidade de BRINCAR?  Vejo crianças com agenda de executivos e sem tempo para exercerem uma atividade gratuita, capaz de estimular a criatividade, coordenação motora, funções executivas, memória, linguagem, socialização: A brincadeira. O tempo virou artigo de luxo.  Vazios emocionais estão sendo preenchidos com celulares, videogames, fastfood e etc.

E neste momento recordo do meu antigo professor de pediatria, Dr. Paulo Cesar Coelho, que há 20 anos já dizia: “O importante não é a quantidade de tempo que os pais ficam com seus filhos. É a qualidade desse tempo”.  E posso afirmar que muitas vezes esse é o presente mais desejado. 

Presenteie seu filho com um pouco do seu tempo, sem fazer nada de forma simultânea. Olhe o brilho dos seus olhos. Olhe sua expressão. Ouça suas histórias. Sinta o calor de suas mãos. Ensine com seu exemplo. Valorize seus pontos positivos. Elogie.

E hoje, volto às minhas prescrições pedindo licença à Saint Exupéry, que dizia que “ O essencial é invisível aos olhos.” Hoje eu complemento: O essencial está na simplicidade.