OBESIDADE E ALIMENTAÇÃO ESCOLAR

Documento conjunto dos Departamentos de Saúde Escolar e Endocrinologia da SOPERJ

A obesidade infantil pode ser considerada um dos grandes desafios do século 21. Segundo a OMS, o problema é global e o excesso de peso vem aumentando de forma alarmante, principalmente em países de média e baixa renda nos grandes centros urbanos.  Segundo um estudo da NCD publicado em 2017, atualmente há mais pessoas obesas do que abaixo do peso em todas as regiões do mundo, exceto na África subsaariana e na Ásia, e mais de 120 milhões de crianças apresentam quadro de obesidade.
A pandemia de COVID-19, com o isolamento das crianças, afastamento das atividades escolares e interrupção da rotina familiar, provocou alterações no sono, aumentou o sedentarismo e tempo de tela, além de alimentação inapropriada com alimentos inadequados e, segundo dados recentes da AAP, o aumento dos percentis de obesidade e sobrepeso que nos EUA gira em torno de 26% entre 2-5 anos. Aqui no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, a obesidade afeta 3,1 milhões de crianças menores de 10 anos.
A obesidade é uma doença crônica, complexa, de etiologia multifatorial e associada a fatores genéticos, ambientais e comportamentais além de ser fator de risco para outras doenças, como diabetes e alterações cardiovasculares entre outras. Por isso a sua prevenção é fundamental.
A escola tem papel importante em dar continuidade ou ter efeito reverso no comportamento infantil no que diz respeito a alimentação saudável e prevenção da obesidade. É claro que sozinha, sem a participação da família e toda a sociedade, não deve ser a única responsável. As politicas devem ser voltadas para garantir a produção e disponibilidade de alimentos descontaminados, isentos de agrotóxicos e misturas de risco.
A família tem importante papel de espelhar seus comportamentos, consciente do efeito que exerce na formação dos hábitos que se iniciam ainda intraútero e se estendem por toda a vida, levando em consideração que os efeitos deletérios do desmame precoce e introdução de leite artificial ainda na maternidade concorrem para futuras doenças crônicas independente da genética.
A mídia deve também ter comportamento regulado por leis que impeçam a sedução das crianças com propagandas e brindes de produtos de qualidade discutível.
Temos sido invadidos por meio de propagandas de alimento ultraprocessado que é aquele que contém substâncias nocivas ao funcionamento normal do organismo contendo corantes, conservantes, aditivos, açúcares, sal, gordura, óleos e produtos artificiais e que podem aumentar o risco de obesidade e, por conta disso, concorrendo para doenças crônicas. Na criança pode levar a obesidade com danos à autoestima, bullying e limitações físicas. Na idade adulta concorrem para as doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão, aumentando o risco de acidentes vasculares cerebrais.
O PNAE, Programa Nacional de Alimentação Escolar, do Ministério da Educação, oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública.
O repasse de verbas é feito diretamente aos estados e municípios, com base no Censo Escolar realizado no ano anterior. O Programa é acompanhado e fiscalizado diretamente pela sociedade, por meio dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAE), pelo FNDE, pelo Tribunal de Contas da União (TCU), pela Controladoria Geral da União (CGU) e pelo Ministério Público, segundo informações no site do FNDE.
Aqui na cidade do Rio de Janeiro a Unidade de Nutrição e Segurança Alimentar Annes Dias (UNAD) é o órgão responsável pela coordenação técnica da área de alimentação e nutrição do município e dispõe também de programa de apoio à gestão municipal e aos profissionais de saúde e educação no âmbito dos Programas Crescer Saudável e Saúde na Escola.
A obesidade é multifatorial. Além da genética e histórico de doenças familiares, os hábitos e comportamentos, nível de instrução, atividade física e acompanhamento pediátrico são de suma importância na sua prevenção.  Um bom acompanhamento pré-natal, atendimento pediátrico desde o nascimento priorizando o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês, acompanhamento regular no atendimento primário ou consultório com supervisão do pediatra na introdução de comida de verdade, vacinas em dia, recomendações de atividades físicas próprias para idade, valorizando a educação e continuidade na escola, já que a obesidade afeta mais a população menos instruída e mais jovem, são recomendações valiosas. Ė uma construção que sempre dá bons frutos.

 

Dra. Valéria Schincariol – Departamento de Endocrinologia
Dr. Abelardo Bastos Pinto Jr – Departamento de Saúde Escolar
SOPERJ – Triênio 2019 – 2021
Agosto / 21