Pediatras Alertam Para os Riscos da Febre Reumática

Simpósio, no Rio, discute doença grave, mas subvalorizada

Cerca de 30 mil novos casos de febre reumática são registrados, por ano, no Brasil. Mesmo sendo uma doença grave e antiga, ainda é desconhecida do grande público e subvalorizada pelos profissionais de saúde. A necessidade de uma maior divulgação e a preocupação com essa desinformação são as razões do I Simpósio sobre Prevenção Cardiovascular e da Febre Reumática na Infância e Adolescência, que a Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (SOPERJ) e o CREMERJ promovem na próxima sexta-feira (23), no auditório do CREMERJ – Praia de Botafogo, 228/ 103 a 106.

“A febre reumática é causada por uma infecção de garganta mal tratada”, explica Adriana Fonseca, membro do Grupo de Trabalho de Febre Reumática e do Comitê de Reumatologia Pediátrica da SOPERJ. “Apesar de a prevenção da febre reumática ser fácil e barata, ainda é causa de sofrimento para pacientes e familiares, de incapacidade, de morte e de custo altíssimo para o SUS”, ressalta a pediatra. Ela lembra que a melhor prevenção da febre reumática é o tratamento das amigdalites estreptocócicas com uma única injeção de penicilina benzatina, cujo preço varia de R$ 8 a R$ 12 nas farmácias comuns e entre R$ 2 e R$ 3 para as farmácias hospitalares. Além disso, o tratamento da infecção com dose única, no posto de saúde, UPA ou hospital, garante a eliminação da bactéria, sem precisar dar antibiótico por mais tempo em casa. Mas, se o paciente tiver complicações cardíacas (50% dos casos) e precisar de cirurgia no coração, o custo fica elevado. Entre os anos de 2005 e 2007 o SUS gastou R$ 232 milhões com o tratamento de doentes crônicos de febre reumática, incluindo cirurgias de coração.

Adriana esclarece que “nem todas as pessoas que têm infecções de garganta, mesmo que frequentes, têm febre reumática”. Segundo ela, cerca de 20% das amigdalites são causadas pela bactéria chamada Streptococcus pyogenes (estreptococo), mais comum em crianças e adolescentes dos 5 aos 15 anos de idade. São estas as amigdalites que podem causar a febre reumática, se não forem bem tratadas. “O tratamento inadequado desta amigdalite, seja por uso de um remédio errado ou por um tempo curto, somado a uma tendência genética, é que causa a doença.”

A febre reumática pode causar inflamação das juntas (artrite), do coração (cardite), da pele e do cérebro (coreia). Embora o nome seja sugestivo, nem todas as crianças têm febre. A febre é mais comum durante a infecção de garganta e não é um sintoma obrigatório. Os sintomas costumam surgir cerca de duas semanas após a infecção de garganta mal tratada, sendo os principais a dor forte e o inchaço nas juntas, com grande dificuldade para andar; cansaço, falta de ar, coração acelerado e sopro no coração. Mais raramente podem surgir também caroços (nódulos) e manchas vermelhas na pele; perda do controle dos movimentos, maior sensibilidade emocional (irritação, choro sem motivo), fraqueza nos braços e pernas, e até dificuldade para falar, escrever e se alimentar.

“Quando há o diagnóstico de Febre Reumática, é necessário evitar que haja nova infecção de garganta, o que poderia afetar ainda mais o coração da criança”, salienta a pediatra. “Esta prevenção é muito importante e é feita com injeções de penicilina benzatina a cada 21 dias”, ensina, mas ela ressalva que, por desconhecimento, medo de dor e das raras reações alérgicas o tratamento é descartado não só pelos pacientes e familiares, mas também por alguns profissionais de saúde.

“O maior inconveniente desta medicação é a dor no local da aplicação, que pode ser reduzida diluindo-a junto com um anestésico chamado lidocaína”, garante a médica do Comitê de Reumatologia Pediátrica. “Cabe reforçar que esta medicação, mesmo que usada por muito tempo, não prejudica o crescimento, não estraga os dentes ou os ossos, não faz engordar nem emagrecer e não é contra-indicada na gravidez. Também não se tem observado resistência da bactéria (estreptococo) com seu uso prolongado. Felizmente a alergia à penicilina é muito rara, principalmente na infância. Há alguns anos, era a prática realizar um teste para ver se o paciente teria alergia à penicilina. Tal teste foi proibido porque era realizado com substância errada e que causava irritação na pele, podendo dar vermelhidão sem significar alergia”, finaliza a Dra. Adriana Fonseca.