Por falta de vaga, Rio só opera 24% das crianças que nascem com cardiopatia

Blog Emergência – O Globo – 03/03/2017 08:50

Todos os anos, cerca de 2,1 mil crianças nascem no Rio com algum problema no coraçãoTodos os anos, cerca de 2,1 mil crianças nascem no Rio com algum problema no coração | Reprodução

Cerca de 2,1 mil crianças nascem no Rio, todos os anos, com algum problema no coração. E menos de 500 delas – ou 23,8% do total – conseguem ser operadas no estado. Dos 1,6 mil bebês que não chegam à mesa de cirurgia, 80% morrem meses após nascerem ou ficam em estado muito pior. Os dados são da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. Segundo a presidente do Comitê de Cardiopediatria da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio (Soperj), a médica Talita Nolasco Loureiro, os hospitais públicos precisam oferecer mais leitos de cirurgia para atender às crianças que precisam ser operadas.

– O Instituto Estadual de Cardiologia Aloísio de Castro tem um andar de cardiologia pediátrica com UTI pediátrica, a Fundação Saúde está fazendo pequenas cirurgias cardíacas, mas bem poucas, pois faltam insumos. A unidade poderia fazer cirurgias de menor porte, mas não tem cirurgiões. O Hospital Universitário Pedro Ernesto da UERJ, atualmente, não oferece um serviço de cirurgia cardíaca pediátrica. O Hospital dos Servidores do Estado também. Poderia oferecer um setor organizado para isso, mas não está estruturado para tal – critica Talita.

Hospital de referência só tem seis leitos
No Rio, a unidade de referência pelo SUS é o Instituto Nacional de Cardiologia, em Laranjeiras, que tem 11 leitos de UTI. Sendo que apenas seis deles atendem recém-nascidos. Com isso, é difícil encontrar vagar por lá. A pediatra Talita Nolasco descarta que a solução possa vir por meio de convênios com hospitais privados.

– Eles podem ajudar provisoriamente com relação à fila do Sistema de Regulação do SUS, mas esta não é uma solução definitiva. Uma unidade da rede privada, com contrato provisório, chegou a operar 350 crianças por ano. Mas está sem pagamento há vários meses e diminuiu drasticamente o chamado das crianças da fila. Com isso, essas crianças estão morrendo na fila de cirurgia.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, todos os anos, surgem 28 mil casos de cardiopatias congênitas no Brasil – cerca de 1% das crianças nascidas no país anualmente. E metade desses brasileirinhos vão precisar de cirurgia antes do primeiro ano de vida.

Iecac aumentou número de cirurgias em 2016
A Secretaria de Estado de Saúde do Rio diz que, em 2016, o Iecac ampliou em 25% o número de cirurgias e que, nos dois primeiros meses de 2017, a unidade realizou um número referente a cerca de 50% dos procedimentos pediátricos feitos em 2015.