Recomendações atuais para o consumo de suco de frutas entre crianças e adolescentes

Autores: Dra Alessandra Marques Braga e Dra Monica de Araújo Moretzsohn

 

A American Academy of Pediatrics lançou em junho na revista Pediatrics as novas diretrizes para o consumo de suco de frutas entre lactentes, crianças e adolescentes.
 

O suco de frutas é conhecido como uma fonte saudável de minerais e vitaminas, sendo de fácil aceitação e palatabilidade pelas crianças. No entanto, a quantidade de açúcar contido nos sucos de frutas contribui para aumentar o consumo calórico diário. Dados recentes norte-americanos mostram que crianças de 2 anos a adolescentes de 18 anos de idade consomem metade da sua cota de frutas diária na forma de suco.

A água é o principal componente do suco de frutas seguida de sacarose, frutose, glicose e sorbitol. Sucos não contem gordura ou colesterol, e, ao menos que a polpa da fruta esteja inclusa, também não contém fibras, o que não sugere benefícios nutricionais sobre a ingestão de frutas in natura para qualquer faixa etária pediátrica. A premissa básica contida na Dietary Guidelines for Americans, publicada em 2015, é focar em alimentos que sejam fontes de fibras, vitaminas e minerais, como frutas e vegetais.

A frutose é absorvida por difusão facilitada pelos enterócitos e é carreada para a veia porta para ser metabolizada no fígado. Toda a frutose que entra nos hepatócitos será metabolizada em trioses e fosfato, e o consumo excessivo pode gerar acúmulo desses metabólitos e formação de triglicerídeos, levando à esteatose hepática gordurosa não-alcoólica.

Sucos de algumas frutas como maçã, tangerina e blueberry contém flavonoides que podem diminuir a atividade de várias enzimas, como o citocromo intestinal CYP3A4 e produzir potenciais interações drogas-nutriente, levando ao aumento da biodisponibilidade de drogas que são substratos da CYP3A4 como ciclosporina, tacrolimus, atorvastatina, fenoxifenadina e alguns agentes antivirais. Os sucos de cranberry, blueberry e tangerina podem reduzir a atividade da CYP2C9, uma isoforma da citocromo P450, que catalisa a biotransformação de drogas como ibuprofeno, flurbiprofeno, varfarina, fenitoína e amitriptilina.

A American Academy of Pediatrics orienta que no manejo da gastroenterite aguda em crianças pequenas seja utilizada somente a terapia de reidratação oral para reposição hidroeletrolítica. Os altos níveis de carboidratos contidos nos sucos (11 a 16g por 100g de produto) comparados aos das soluções de reidratação oral (2,5 a 3g por 100g do produto) pode exceder a capacidade do intestino de absorver carboidratos, resultando em diarreia osmótica, dor abdominal, distensão e flatulência. Os sucos de frutas são pobres em eletrólitos, podendo levar as crianças, nesse caso, a quadros de hiponatremia. Ademais, sucos de frutas não pasteurizados podem conter patógenos como Escherichia coli, espécies de Salmonella e Cryptosporidium, que podem ser nocivos à saúde das crianças, causando, por exemplo, a síndrome hemolítico-urêmica.

Para lactentes, o leite materno é o único alimento a ser ofertado às crianças até os 6 meses de vida. Para as mães que não podem amamentar ou optam por não amamentar está indicado o uso de fórmulas infantis. Não existe comprovação de benefícios nutricionais que indique a inclusão de suco de frutas em crianças menores de 6 meses de vida, o que poderia elevar o risco de substituição do leite humano ou fórmula láctea pelo suco, levando à inadequação nutricional e no tocante ao consumo de proteínas, gorduras, vitaminas e minerais como ferro, cálcio e zinco.

Segundo as novas diretrizes, deve-se evitar o consumo de suco de frutas em crianças menores que 1 ano de idade, devendo ser oferecido às crianças pequenas em copos, nunca em mamadeiras, e que não seja encorajado às crianças carregar mamadeiras ou garrafinhas de suco. É desejável que o suco de frutas seja parte de uma refeição ou lanche, nunca em substituição a uma refeição principal.

Qualquer bebida que é composta por menos de 100% do suco natural da fruta deve conter a especificação da percentagem em suco contida naquele produto, assim como discriminar a adição de adoçantes, sabores artificiais e fortificantes como vitamina C e cálcio.

Consumo recomendado de suco de frutas nas faixas etárias:

– Crianças pequenas (1 a 3 anos de idade): consumo limitado a aproximadamente 120ml

– Crianças entre 4 a 6 anos de idade: consumo limitado de 120ml a aproximadamente 180ml

– Crianças entre 7 e 18 anos de idade: consumo limitado a aproximadamente 240ml

Os pediatras, portanto, exercem um papel fundamental no cuidado à saúde de crianças e adolescentes, orientando as famílias quanto à alimentação saudável que garanta adequado crescimento e desenvolvimento. O comitê de nutrologia da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro endossa as recomendações da AAP de não oferecer suco de frutas a crianças menores de 1 ano, optando pela oferta da fruta in natura a partir do 6 mês de vida durante a introduçãoda alimentação complementar.

 

Referências bibliográficas

 

1- Fruit Juice in Infants, Children, and Adolescents: Current Recommendations Melvin B. Heyman, Steven A. Abrams, SECTION ON GASTROENTEROLOGY, HEPATOLOGY, AND NUTRITION and COMMITTEE ON NUTRITION Pediatrics ; originally published online May 22, 2017

 

2- US Department of Health and Human Services; US Department of Agriculture. 2015–2020 Dietary guidelines for Americans. 8th ed. Available  at:  http://health.gov/ dietaryguidelines/2015/guidelines

 

3- Lifschitz CH. Carbohydrate absorption from fruit juices in infants.  Pediatrics. 2000;105(1). Available at: www. pediatrics.org/cgi/content/full/105/ 1/e4

 

4- Bolling C, Crosby L, Boles R, Stark L. How pediatricians can improve diet and activity for overweight preschoolers: a qualitative study of parental attitudes.  Acad Pediatr. 2009;9(3):172–178

 

5- American Academy of Pediatrics, Provisional Committee on Quality Improvement, Subcom
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