SETEMBRO AMARELO – MÊS DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO

Pode ainda não ser uma verdade para todos os pediatras brasileiros, mas a transição epidemiológica evidenciada, principalmente a partir da década de 80, no Brasil trouxe consigo grandes desafios para o cuidado de crianças e adolescentes. Temos aprendido bem a lidar com as doenças crônicas, as neoplasias, o incremento tecnológico na assistência pediátrica intra e extra hospitalares; mas ainda há dificuldade, e talvez resistência, para se pensar sobre a morte violenta e a construção da violência nesse grupo etário.

Aproveitando o mês de setembro, vale-nos um desafio e um sinal de alerta; como encaramos a mortalidade por causas externas na prática pediátrica? Os dados nacionais de 20121 mostram que 71,1% da juventude brasileira tem morrido por causas externas; três causas assumem importância nesses números: homicídios, acidentes de trânsito e suicídios. Em 2014, a Organização Mundial de Saúde publicou um documento elencando o suicídio como pauta de saúde pública internacional2, sendo importante causa de mortalidade na população de 15-19 anos. Os países signatários assumiram um compromisso de redução da taxa global de suicídio em 20% até o ano de 2020. Além disso, estima-se que, em cerca de 90% dos casos de suicídio, existe uma associação com transtorno mental, estabelecido em até dois anos antes desse desfecho fatal 2,3.

Diferente do que possa ser considerado numa primeira reflexão, o tema suicídio deve sim começar a fazer parte do conhecimento da pediatria. De forma drástica, e por vezes assustadora, tal realidade já nos é confrontada e deve suscitar a busca por respostas; respostas a perguntas que, de pronto, temos e a questionamentos que passaremos a ter. O silêncio e o medo acerca do tema favorecem uma sequência de tabus que autorizam e cristalizam o preconceito que nos distancia de uma boa prática, condizente com nossa realidade epidemiológica e com os cuidados que desejamos praticar.

Que esse setembro seja diferente de outros em nossa reflexão sobre saúde, doença, morte e violência.

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Orli Carvalho da Silva Filho

Pediatra e Psiquiatra da Infância e Adolescência

Comitês de Saúde Mental e Adolescência SOPERJ

1. O Mapa da Violência 2014 – Os Jovens do Brasil. Julio Jacobo Waiselfisz. Secretaria Geral da Presidência da República, Secretaria Nacional da Juventude e Secretaria de Políticas da Promoção da Igualdade Racial, Brasília, 2014.
2. O Mapa da Violência 2014 – Os Jovens do Brasil. Julio Jacobo Waiselfisz. Secretaria Geral da Presidência da República, Secretaria Nacional da Juventude e Secretaria de Políticas da Promoção da Igualdade Racial, Brasília, 2014.
3. Tratado de Psiquiatria da Infância e da Adolescência. Francisco B Assumpção Jr, Evelyn Kuczynski (edit) – 2ed. – São Paulo. Editora Atheneu, 2012.