SOPERJ ALERTA CONTRA ZIKA: ATÉ CRIANÇAS NORMAIS DEVEM SER ACOMPANHADAS

Atendimento por pediatras precisa começar nos primeiros dias de vida

 

A Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro (SOPERJ) acompanha de perto o aumento do número de casos suspeitos e confirmados de crianças nascidas de mães acometidas pela zika, durante a gravidez. E a presidente da SOPERJ, Isabel Rey Madeira, alerta para a necessidade de não só esses bebês, “como também os que nascerem normais nesse período epidêmico”, serem vigiados de perto por um pediatra, quanto ao desenvolvimento neuropsicomotor, para um diagnóstico e intervenção precisos e precoces, quando necessário.

 

“É importante resgatar o papel do médico pediatra, o especialista no acompanhamento da criança saudável”, diz a presidente da SOPERJ. “Só ele saberá determinar qual é o bebê que, ao se desviar precocemente da normalidade, demandará cuidados em níveis de atenção em saúde mais especializados”, completa. Para Isabel Rey Madeira, “as equipes de profissionais especializados têm que ser ampliadas e disseminadas o mais rapidamente possível, pois as acrianças acometidas precisam de atenção logo nos primeiros dias de vida. Algumas nos primeiros minutos”, ressalta. “E só o pediatra pode assegurar esta tranquilidade. A questão é que estes especialistas não fazem mais parte das equipes de cuidados primários à criança”, lamenta. 

 

As crianças acometidas pelas manifestações neurológicas relacionadas à zika contraída pelas gestantes têm, na microcefalia, “a ponta do iceberg destas manifestações neurológicas, que vão demandar cuidados ao longo de toda a infância e adolescência”, diz a Dra. Isabel. Segundo ela, o pediatra deve atuar no diagnóstico e à frente de uma equipe que prestará cuidados a esses bebês, formada por “enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais, dentre outros”. Ela destaca a complexidade do atendimento que cabe exclusivamente ao pediatra, pois será necessário “realizar história, exame físico e funcional; fazer diagnóstico funcional junto com a equipe multidisciplinar; relacionar a causa orgânica com a falta de aquisição ou perda de funções; detectar contraindicações de procedimentos em algumas condições clínicas; indicar exames complementares pertinentes; encaminhar adequadamente para outras especialidades clínicas ou cirúrgicas; indicar uso de muletas, andador, cadeira de rodas e órteses; definir com a equipe multidisciplinar quais setores atenderão a criança; discutir com a equipe multidisciplinar medidas para prevenir ou minimizar complicações; e indicar procedimentos cirúrgicos que facilitem o trabalho de ganho funcional”, destaca.

 

A necessidade da precocidade no atendimento, segundo Isabel Rey Madeira, é fundamental porque “essas crianças tiveram o prejuízo da formação de seu sistema nervoso central durante o período intrauterino, com consequências futuras para seu desenvolvimento neuropsicomotor”. Segundo a presidente da SOPERJ, o diagnóstico e a intervenção precoces podem promover o desenvolvimento de suas capacidades neurocognitivas no máximo de suas potencialidades. "Mas para isso o pediatra, que é o especialista em desenvolvimento, deve atuar precocemente, sem perder o que chamamos de períodos de janelas de oportunidades. Estas crianças têm maiores chances de apresentar crise convulsiva, paralisia cerebral, retardo mental e anormalidades visuais, por exemplo”, comenta. 

 

O alerta feito pela presidente da SOPERJ tem um motivo a mais: a carência do sistema de saúde, que já não atendia de forma satisfatória o grupo de crianças com necessidades especiais “por outras doenças ou acometimentos, que já não recebia a devida assistência, inclusive com o desmantelamento de serviços públicos especializados para esse público”.

 

“É triste constatar que o sistema de saúde não está preparado para receber este grande volume de crianças que nascerão comprometidas nos próximos meses”, diz Isabel Rey Madeira. “Existem equipes multidisciplinares que realizam o seguimento de recém-nascidos de alto risco por outras causas, mas já são em número insuficiente para o panorama atual. O que diremos para o horizonte que se avizinha?”, questiona. “Existe a máxima urgência de se mobilizar o médico pediatra, não só para os cuidados aos bebês, mas também para o diagnóstico precoce. E é também importante o diagnóstico da normalidade, e o seguimento também destes bebês que a princípio se mostraram normais. Os bebês normais, nascidos das gestantes que foram expostas a este período epidêmico, devem ter suas famílias tranquilizadas e ser poupados de procedimentos desnecessários e muitas vezes invasivos, até nocivos”, finaliza a presidente da SOPERJ.