Uso de Telas e Desenvolvimento da Linguagem

Atualmente, o uso de telas faz parte da rotina da maioria das crianças e adolescentes. Essa exposição tem sido uma das grandes preocupações da Pediatria e de diversas entidades ligadas à saúde infantojuvenil.

A SOPERJ, através do Departamento Científico de Neurologia, chama mais uma vez a atenção para a questão e esclarece a relação entre o uso de telas e o atraso no desenvolvimento da linguagem da criança.

O Dr. Eduardo Jorge Custódio da Silva, membro do Departamento, explicou que para o desenvolvimento global da criança, incluindo a linguagem, é fundamental que todos os sentidos sejam estimulados simultaneamente ou, pelo menos, em grupos. “A rua, o correr, o brincar, pôr as mãos nas coisas, saber o significado, olhar, ter várias formas de estimulação são ações importantes para o desenvolvimento. A falta disso, obviamente, atrasa o processo de evolução natural da criança.”

Segundo ele, o uso de telas foca muito mais no estímulo visual. Com isso, acaba impedindo, por exemplo, a percepção externa através do toque, do paladar e de uma série de outras situações. O médico ainda reforçou que uma única forma específica de estimulação pode impedir e até alterar o desenvolvimento cerebral.

“Áreas do cérebro repetidamente estimuladas podem ganhar um tempo maior, podem até ganhar um volume maior, enquanto outras áreas, que são importantes para o desenvolvimento cerebral, podem ter uma certa perda por pouca estimulação.”

Uma criança muito tempo com os olhos nas telas também tem pouco tempo para interagir com seus pares, ressaltou o Dr. Eduardo. Essa interrelação é um dos fatores principais e mais importantes para o desenvolvimento geral e, especificamente, da linguagem infantil.

Consequências da Exposição de Telas na Infância

O uso excessivo de telas traz consequências importantes para o desenvolvimento de crianças e adolescentes e até para a saúde em geral, inclusive com o surgimento de novas patologias.

O médico destacou que alguns estudos observaram que algumas crianças, de até 2 anos, estimuladas excessivamente com telas apresentavam características semelhantes ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), antes de ingressar na escola. No entanto, são observações que ainda precisam de mais evidências científicas.

“O que se pôde observar foi que essas crianças quando inseridas na escola, falavam mais, aumentavam o vocabulário, conseguiam ter uma interação social melhor e, consequentemente, se desenvolviam mais rapidamente.”

Além da questão da linguagem, o Dr. Eduardo destacou também a nomofobia (fobia de ficar sem celular), que afeta tanto adultos quanto crianças e adolescentes. Além dos já conhecidos da sociedade como: o sedentarismo; as doenças crônicas como obesidade, hipertensão e diabetes, que estão cada vez mais presentes entre os jovens; a Síndrome do Olho Seco, devido a ficar muito tempo em telas; cyberbullying e depressão, entre tantos outros problemas.

 Sinais e Recomendações das Sociedades

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda, baseada na revisão das diretrizes da Academia Americana de Pediatria, que crianças menores de 2 anos não devem fazer uso de telas. A partir desta idade, a orientação é de que o tempo não ultrapasse uma hora por dia, no máximo.

O Dr. Eduardo ressaltou que há muitas normativas sobre o assunto, mas que os médicos sabem que é muito complicado para os pais. Afinal, o celular, o tablet, o computador e a televisão fazem parte da nossa rotina diária e também das crianças. No entanto, ele destacou que é importante fazer ajustes sem prejudicar o desenvolvimento geral da criança.

De acordo com o médico, é importante não fazer comparações com os comportamentos das crianças, visto que cada criança tem o seu tempo. Mas afirmou que alguns sinais podem indicar que há algum problema.

“Uma criança de 2 anos que não fale nada, indica um problema. É preciso observar a quantidade de palavras e de vocabulário para saber em termos de desenvolvimento. É algo de forma intuitiva, na verdade. Os pediatras e as famílias conseguem perceber.”

O médico acrescentou, ainda, que há escalas de desenvolvimentos relacionadas à linguagem, à movimentação motora e às capacidades físicas pareadas por idade. Entretanto, esclareceu que não há uma idade padrão específica para isso e destacou que é essencial respeitar a individualidade de cada criança.